terça-feira, julho 20, 2004

Torres Vedras, Portugal, 2004

Ontem, ou anteontem, uma repórter da RTP (daquelas bonitinhas que dizem "ilecóptero", as "características que caracterizam" e que conseguem a proeza de acentuar palavras na sílaba anterior à antepenúltima - i.e. JÚ - ni - o - res - relatava, entusiasmada, uma ideia (louvável, a todos os títulos) da autarquia de Torres Vedras em pôr criancinhas a distribuir cinzeiros de plástico pelos banhistas, nas praias. Isto porque "as praias se estavam a tornar em gigantescos cinzeiros"... vai daí que a repórter, imbuída daquele espírito contagiante que deve reinar lá pela estação de fazerem perguntas estúpidas quase irrespondíveis, lembrou-se de entrevistar um rapazito e perguntava: - Então o que é que costumas encontrar na praia? E o puto respondia... conchas. E a repórter insistia: E que mais? E o puto respondia... pedrinhas. E a repórter, com cara de "raios partam o sacana do puto que nunca mais diz beatas..." insistia ainda: E que mais? E o puto, pestanejante, olhava para a repórter, pensava, hesitava... e a repórter, numa tirada brilhante: E beatas, não encontras beatas? E o puto... siiiiiiiim, que é o que 90% dos putos portugueses usa como resposta a qualquer pergunta que lhe façam. Um siiiiim arrastado e que "caracteriza as nossas características". E a repórter, triunfante: Ahhh, encontras beatas. E diz-me: O que costumas fazer às beatas? O puto, coitado, olha para a repórter, as audiências suspensas de tão edificante e construtivo diálogo e responde: "Amando-lhes um chuto". Eu seja ceguinho... mas foi esta a resposta "verbatim" do miúdo. Ainda fiquei com esperança de que o chuto seria para a repórter mas, desgraçadamente, era para as beatas que a criança encontrava...

recursos

A vertigem actual da sociedade portuguesa consubstancia-se na forma, conteúdo e frequência com que toda a gente comenta ou quer comentar o passado, presente e futuro de Santana Lopes. Até Pacheco Pereira parece ter-se esquecido de tudo o mais e assestou baterias no saco de porrada em que PSL se tornou (o Oremos do post de hoje no Abrupto é uma delícia de fino humor e rara oportunidade). Este reparo apenas para referir que uma notícia do DN de hoje me causou arrepios na espinha... a menos que me expliquem melhor estas "coisas" da justiça. Vejamos: há um colectivo de juízes que se decide pela não pronúncia de Paulo Pedroso. O MP recorre e adivinhem quem vai julgar o recurso? Sim... esse mesmo colectivo. Serão esses os juízes que,salvo terem surgido dados novos no processo, o que parece não ter acontecido, irão apreciar a possibilidade de terem decidido mal há pouco tempo atrás...

segunda-feira, julho 19, 2004

capado??

que se passa?????

as bolhas II

... e elas continuam a estalar e a reintegrar-se na matéria-mãe. E no estado em que está, hoje, a matéria - mãe, nem prima ela é...

sábado, julho 17, 2004

refrão

Sugestão de um refrão para o hino do PS, após a candidatura de José Sócrates:

Ana Gomes, Ana Gomes
Where are iú?????
There you are, there you are
Perdeste o piúúúúú...

Não resisto a esta malfeitoriazinha.

sexta-feira, julho 16, 2004

As crises

A crise política é bem mais séria do que pode parecer. As individualidades que atacam Sampaio impiedosamente pela sua decisão em proporcionar a manutenção da coligação no poder são exactamente as mesmas que se eriçam agora com a candidatura de Sócrates a secretário geral do PS. As expectativas são diluvianas. Assim, pergunta-se. Há crise porque o PSD/CDS mantem o poder e há crise pelo destempero que reina no PS, configurado pela candidatura de Sócrates. Então, quem? E como? O que fazer? A série de vacuidades produzidas ainda há pouco por José Sócrates na entrevista a Judite de Sousa no C1 é um sinal confrangedor da crise alargada...todavia, quer-me parecer que aquele familiar discurso, lembrando os melhores tempos de Guterres, vai produzir efeitos e gerar dividendos a curto prazo. As pessoas gostam assim!

quinta-feira, julho 15, 2004

os debates

O tema do Forum TSF de hoje era: «Queremos a sua opinião sobre a nomeação de Bagão Félix e de António Monteiro para o novo Governo». A primeira intervenção não se fez esperar, do Norte está bem de ver, que isto de «foruns» e «bancadas centrais» está de há muito localizado do Mondego para cima. E claro que a nomeação foi uma catástrofe. Minto. Não foi a primeira reacção. A primeira foi do comentador da TSF que relativamente ao Ministro dos Negócios Estranjeiros disse que António Monteiro era um bom diplomata mas faltava-lhe "peso político". Aguardo desesperadamente por uma nomeação em relação à qual António José Teixeira possa dizer que o nomeado tem peso político mas carece de características técnicas...aguardo ainda, com excitação as provavelmente 10 nomeações que faltam para poder ouvir os restantes foruns. O facto de as dez que faltam serem conhecidas em simultâneo pode retirar um pouco de impacto à coisa, mas sempre se poderá fazer desdobramentos de foruns, com duas nomeações por programa e intercalando com os incêndios de Verão.

as bolhas

Qualquer espuma que se preze tem bolhas. Acontece é que as bolhas deverão ter uma determinada dimensão, para além da qual as bolhas incham e fazem puff... e a espuma deixa de ser espuma para se tornar parte integrante da matéria-mãe. E as bolhas hoje incharam. Até amanhã...

quarta-feira, julho 14, 2004

A maresia

Talvez porque ontem falei no Índico, hoje reparei melhor no Atlântico. Tenho o privilégio de viver perto dele e de ser obrigado a vê-lo todos os dias de e para o trabalho. Por qualquer razão que me escapa todos os dias milhares de automóveis se "acotovelam" na A5 e ainda pagam por cima. A Marginal Cascais - Lisboa oferece um panorama ímpar, um brilho magnífico e, até, aquele cheiro de maresia que eu recordo de garoto e que se mantem exactamente entre o Alto da Barra e S. João do Estoril. Deve haver uma razão qualquer para este odor a mexilhão e a espuma se manter entre os gases de escape de milhares de automóveis e sobreviver aos "coliformes fecais" das praias da linha, que é forma rebuscada de dizer que aquilo está cheio de merda. Mas a maresia lá está e com ela o meu convencimento que este país tem três coisas que realmente o distinguem do resto da Europa, a saber. O clima (o melhor do mundo, mau grado passarmos o nosso maravilhoso Inverno a chiar de frio e a refilar com as correntes de ar em casa e com a "chuva que nunca mais pára sempre que chove mais de dez minutos seguidos), o brilho e os cheiros. E enquanto os tais milhares de carros lutam desesperadamente para chegar todos ao mesmo tempo às mesma bichas do trãnsito mais caótico do Mundo (não conheço Bombaim...)eu incho de prazer a ver o mar, a cheirar a maresia e a chegar 10 minutos mais cedo...

terça-feira, julho 13, 2004

As cavalas

Num dia de Verão tropical - meados de Dezembro - encontrava-me a pescar no Índico. Sentia-me de bem com as pessoas, com as coisas e com o mundo em geral. Lembro-me nitidamente dessa sensação boa de me sentir bem. Talvez o calor, o mar chão e muito azul, o ronronar dos motores a baixa rotação e a darem a adequada velocidade ao barco numa operação de corrico, a liberdade, a ideia que sob o casco existia uma vida ainda com tanto para descobrir quanto tem de voluptuosa beleza e fascínio. Enfim, pensamentos deleitosos de momentos magníficos. De repente vi um tubarão à superfície, quase parado. Conhecendo razoavelmente os tubarões, estranhei. Aproximei-me e vi um tubarão cinzento, enorme, magnífico, numa pose relaxante, quase parado, que pareceu nem dar pela aproximação do barco. Um olhar mais atento revelou-me um enorme cardume de cavalas a cerca de 30 ou 40 metros do tubarão. Juntas, ordenadas, quase perfiladas, estavam viradas para o tubarão que, por sua vez, olhava para elas numa atitude de expectativa. Parei e esperei o que eu pensava vir a ser uma caçada, com o tubarão a nadar vetiginosamente a perseguir a refeição. Eis senão quando as cavalas avançam em simultâneo, como que sob ordem de comando, na direcção do tubarão que, impávido, se limitou a abrir a boca e esperar que algumas dezenas delas entrassem pela boca guarnecida de dentes agudos e afiados. Foi um espectáculo inolvidável... ver um exército de cavalas a nadar deliberadamente em direcção ao tubarão e proporcionar-lhe parte do seu efectivo como alimento, num heróico sacrifício de sobrevivência. Quando pensava que tudo estava terminado, o cardume de cavalas girou 180 graus, fez novo compasso de espera até que o tubarão se virasse também para elas e aí vai nova carga de "cavalaria" a depositar mais uma generosa quantidade de soldados no bojo enorme do inimigo. Incrédulo, interroguei-me sobre quantas "cargas de cavalaria" estariam ainda para acontecer, mas foram só duas. O tubarão, aparentemente saciado foi-se embora. As cavalas, cumprida a missão, dispersaram em sentido oposto. Uns dias mais tarde, em conversa com um eminente biólogo marinho da Universidade de Durban, fui elucidado que aquilo que eu vira teria sido um episódio não raro na convivência de cavalas com tubarões. As cavalas, sentindo a proximidade do predador, organizam-se e heroicamente lançam-se na boca do inimigo, sabendo que assim terão menos baixas do que sofrendo um ataque directo do inimigo. Nunca mais me esqueci deste episódio (entre dezenas de episódios magníficos e sempre diferentes que o mar alto nos oferece)e ainda hoje me interrogo sobre a razão de a Natureza ter criado cavalas e tubarões...

Os populistas

O termo populista irrita-me. Só por si. E irrita porque, por definição, me chama estúpido. Se o povo não fosse estúpido não havia populismo. É a forma mais racional que encontro para descodificar o vocábulo, mas estou aberto a opiniões. E, todavia, diz-se frequentemente que o "o povo não é estúpido" com a mesma desfaçatez com que se acusa opositores de serem populistas. O que, à partida é um paradoxo. Mas ainda aceito que qualquer fenómeno é paradoxal pelo que, com algum esforço, sou capaz de acomodar o vocábulo. O que não podemos é misturar populismo com falta de vergonha e isso é recorrente e profundamente irritante. Quando Carlos Carvalhas diz de Sampaio o que o diabo não disse da cruz, raiando o insulto, e não tem a honestidade nem estrutura ética para se demitir do Conselho de Estado (aliás convidado pelo próprio Jorge Sampaio), não estamos perante uma forma de populismo mas da mais refinada falta de vergonha de alguem que ainda representa uma fatia do eleitorado português. Sei por experiência e vivência próprias que um dirigente comunista é, quase sempre, desonesto e mentiroso. Não é preconceito. É factual. Mas quando um dirigente comunista aceita o jogo da democracia terá inevitavelmente de aceitar as regras. Carvalhas deu um bom exemplo do que é, como homem e como dirigente político.

segunda-feira, julho 12, 2004

Ministérios

JPP mandou para o Abrupto um "começou" ao qual, ainda que a custo, tenho de me render. Sempre achei que Jorge Sampaio tomou a atitude que se impunha, mas começo a ter matéria para pensar. Isto porque PSL "começou" mesmo. Sem ter visto ainda a cor dos dossiês atirou com a ideia dos Ministérios descentralizados, deslocados, regionalizados, fiquei sem perceber... mas foi o suficiente para se falar no Ministério de Agricultura em Santarem, do Turismo em Faro (já apareceram vozes discordantes no Forum da TSF a dizer que Covilhã é que é, por causa da Serra da Estrela, enquanto que o presidente da Câmara de Santarem acha que sim senhor)e o mais que adiante se ouvirá. Por mim, voto já no Ministério da Igualdade (regressa Maria de Belém!) em Bragança, devidamente codjuvado pelos SEF, da Saúde em Leiria (abaixo as pocilgas), das Finanças no Porto (não é lá que está o dinheiro?)e da Administração Interna na Amadora. Sendo que as reuniões do conselho de ministros poderão ser feitas na Quinta do Lago...Isto começa mal. Pelo menos para mim que, crédulo, achava que JPP era, nesta matéria PSL, um exagerado.

domingo, julho 11, 2004

As graças

Somos um povo de graças. Há quem diga que de desgraças. É possível, mas que com graças tropeçamos todos os dias não é menos verdade. Por mim, tenho convivido pacificamente com graças, embora algumas me suscitem a dúvida de não saber a razão da graça. O bairro da Graça, por exemplo, poderá dever-se a alguma graça que por lá viveu ou alguma graça concedida. É um bairro com graça para todos os que achem graça aos bairros de Lisboa e é uma desgraça para quantos se entretêm a encontrar defeitos e malfeitorias nos mesmos bairros. É assim com tudo e tem graça que assim seja. Ocorre-me uma Graça que conheci, também, há muitos anos. Talvez porque fosse pequena, era a Gracinha. Brincámos juntos e eu achava graça a cada graça que a Graça fazia. O pai dela, sem graça, era veterinário e de pouco mais me lembro. Ah! E era gago. o que proporcionava uma "grasnada" inominável sempre que ele chamava pela filha e dizia "gra" dez vezes antes de chegar ao "ça". Senhora da Graça é, ainda, uma famosa (pelo menos para nós) etapa da Volta a Portugal que, de resto, tem cada vez menos graça. Graça é, assim, um termo que grassa livremente pelo léxico nacional sem que daí venha muito mal ao mundo. Mas há uma graça,ou melhor, umas graças que me causam algum desconforto. São as graças a Deus. Não que me mova algo de negativo sobre quem legítima e sinceramente agradeça a Deus pelas graças concedidas. Mas quando o termo se banaliza e, pior, se torma um lugar comum entre as figuras públicas que nos inundam a retina todos os dias em quase todos os programas de televisão,aí sim. É desconfortável, não tem graça e gera em mim aquela sensação idiota de que me fazem passar por idiota a cada momento que passa, sempre que a comunicação com o povo sem graça precisa da graça de uma desgraçada figura pública. É rara a intervenção de político, dirigente comentador ou, por vezes até, apresentador de televisão que não carreie um "graças a Deus". Pode se que seja moda, assim como um vulgar "é assim", "pois" ou o "portanto" de antanho. Mas que Deus não deve ter mãos a medir com tantas graças invocadas é uma questão que todos os que dão graças deveriam ter bem presente e pensar que até Deus não deve achar tanta graça. Isto poderia ainda conduzir-me a recentes reflexões sobre pessoas que morrem, passam inevitavelmente pela Basílica da Estrela e suscitam aquele corropio de gente tocada pelo momento e que, naturalmente, deixa o seu depoimento junto de e para as câmaras. Se os inditosos falecidos são de esquerda... aí a coisa requer alguma agilidade dos entevistados que, frequentemente, têm tiradas geniais para justificar (??...) o facto de pessoas tidas como de esquerda, laicas como convém, acabam em câmara ardente. Ocorre-me uma brilhante tirada de Saramago na vigília de Maria de Lourdes Pintassilgo, o qual, após o panegírico em conformidade com as circunstãncias e com o facto de a falecida ser uma proeminente figura de esquerda (ainda uns dias antes de falecer ela terá dito que estávamos na pior crise política de sempre, desde o 25 de Abril...)se lembrou que estava numa igreja e que a senhora era católica. E a frase brilhante saíu-lhe: Maria de Lurdes era uma... humanista. Sem perceber bem o alcance desta tirada de Saramago fiquei sem perceber se o homem estava a falar a sério ou se estava a pedir desculpa a alguns por a senhora estar na igreja. Coisa sem graça. Uma desgraça, diria mesmo. Que gente sem graça, pretenda ter a graça de ter graça (coisa que nem toda a gente tem). Obrigado José saramago, pela forma como me elucidou sobre o humanismo da senhora. E até uma próxima, se Deus quiser.

sexta-feira, julho 09, 2004

as tripas

Jorge Sampaio extremou a recente crise política, criada a partir da demissão de Durão Barroso. Uma decisão, que poderia e deveria ter sido natural e tomada em tempo útil, acabou por ser tomada após um longo período de aparente indecisão, consultas e a criação de uma campo fértil a dúvidas e clivagens sérias entre os portugueses, que continuam a ter um comportamento político do tipo de adepto de futebol. Tudo pelo clube, morte ao adversário (pelo menos uma canela partida). Não se percebe que outras razões poderiam estar na génese de tão prolongado período e de tão publicitada série de consultas, tal como não se percebe a razão porque Jorge Sampaio disse e repetiu, com ar dramático, "ser esta a decisão mais grave do seu mandato". Isto foi meio caminho andado para que os portugueses se dividissem, a oposição espingardasse e as posições se extremassem. Afinal e a avaliar pelo argumentário de Jorge Sampaio, a decisão era óbvia e pouco espaço havia para tamanho dramatismo. Ora o que Sampaio parece ter minimizado foi um elemento claríssimo, qual seja a de o comum cidadão pensar para os seus botões que se a decisão era assim tão grave e difícil para o Supremo Magistrado da Nação é porque a coisa era mesmo complicada e que a solução é capaz de não ser tão boa como isso. A verdade é que não se vislumbra bem que outras razões poderão existir na conduta de Sampaio que não seja a azia que lhe provocou ter de tomar uma decisão pela razão e pelo profundo respeito pelas normas institucionais (seria de esperar outra coisa do Presidente de todos os Portugueses?)em colisão estrepitosa com as suas convicções políticas e pela antipatia pessoal que o próximo primeiro ministro lhe suscita. Por outras palavras, Sampaio agiu na observância estrita da estabiliadde e do respeito pelas instituições democráticas, mas viu-se obrigado a contrariar, como diz o povo, o que lhe ia nas tripas. Acresce que criou expectativas na oposição e gerou reacções de genuina decepção nos sectores da oposição minimamente civilizados e de autêntico terrorismo e má educação (Fernando Rosas, por exemplo, que chegou a ser caricato e da inenarrável Ana Gomes, que foi ofensiva e insultuosa).

as obras

Tenho para mim que todo o português gosta de ter uma obra de estimação. Já de miúdo reparava que era rara a casa do bairro onde nasci que não dispusesse de obra a preceito. Normalmente, um galinheiro. Ou uma porta nova para o galinheiro. Um muro... também ajudava. Ou porque não uma parede deitada abaixo para se levantar outra semelhante? Naquele tempo (pensava eu...) uma obra era uma realização. A demonstração do nosso saber e das nossas capacidades. Cada qual sempre melhor que a do vizinho. Era o Portugal salazarengo em que todos nós éramos piores que os "estranjeiros" mas, compensatoriamente, bons no que fazíamos. Visse lá um estranjeiro fazer uma marquise como nós...E nós fazíamos galinheiros, muros, degraus, parapeitos e portas de madeira. Claro que a evolução ajustou esta nossa inata vocação para um quadro de obra+corrupção+chicoespertice. O pato bravo instalou-se e como a obra, sozinha, não chegava,ajuntou-se-lhe a obra má. Fazer e ter de desfazer porque estava mal feito, porque se podia ter feito melhor. Lisboa e Porto devem ser as capitais euriopeias das gruas, tapumes e bandeirinhas vermelhas. e dos montes de terra claro. Dos plásticos, valas a céu aberto, tijolos empilhados e camiões poeirentos a espalhar terra e cimento líquido pelas ruas. As pessoas convivem com as obras com a resignação do fado, com o desígnio da sina que nos calhou em sorte e pouco mais haverá a dizer sobre isto. O que me leva a dizer alguma coisa mais sobre isto... é que fui ao Porto de combóio. Um combóio rápido, confortável e moderno. E deu-se a revelação. Afinal as obras não estavam circunscritas às grandes urbes. Os trezentos kilómetros que separam Lisboa do Porto são percorridos numa "obra" ininterrupta. Ele há covas, aterros, valas, gruas, camiões, taludes, sarrafos, plásticos (ai os plásticos...), tudo no maior desleixo e insegurança. O Alfa passa, por vezes, a 200 km/hora a poucos metros da mais elaborada bagunça de que terei memória. Eu já tinha esta experiência de avião... descolar de Lisboa a caminho de uma qualquer cidade europeia é uma experiência ímpar do que somos capazes em matéria de falta de civismo, rigor e respeito pelo nosso país, hoje por hoje um dos mais bonitos que conheço. Mas disso já eu lera uns apontamentos de Pacheco Pereira que, com outro brilho que não o meu, se referira já ao veradeiro horror das pedreiras abandonadas, das matas erráticas e das casas espalhadas pelas florestas sem o mais pequeno pingo de rigor, plano ou cuidado. Mas o comboioi dá-nos uma visão mais próxima e mais palpável do nosso desmazelo. Não é dizer mal nem ser negativo. É desmazelo, mesmo. É desleixo e uma total ausência de vergonha, bem patentes no espectáculo que se nos depara em trezentos kilómetros de viagem. Perceber isto (ou tentar perceber) é complicado ou fácil, dependendo da forma como o fizermos. Mas que é dilacerante reconhecermos as nossas incapacidades, a nossa falta de pudor em transformarmos um cenário privilegiado no mais abjecto cenério de degradação causada pelo homem, é.

quarta-feira, julho 07, 2004

experiencia outra vez

depois de me esmerar... postei e não saíu nada.

ganhar...perdendo

A esquerda é habitualmente um bolo estúpido e Ferro Rodrigues é a cereja a preceito. As "últimas" são que Ferro Rodrigues deseja eleições antecipadas. Ainda não percebi bem porque é que os media chamam "últimas" a uma coisa que o homem anda a clamar há longos dias. Talvez porque todos nós sejamos um bolo tão estúpido como a esquerda. Mas voltando à "exigência" de Ferro Rodrigues... ainda ninguém no PS terá percebido que a haver alguém interessado em eleições já, será exactamente a coligação? Não percebe Ferro Rodrigues que uma decisão de Sampaio que leve Santana Lopes ao poder criará um terreno pantanoso e desfavorável a Santana mai-la sua "entourage" formada a preceito? A coisa melhor que poderá suceder a Santana (não sei se ao PSD...) é ir a eleições. O homem tem força, tem carisma, não é idiota e sabe dispôr as cerejas nos bolos. Alguém terá presente como, no estádo da Luz e depois duma monumental assobiadela a Durão Barroso e a ele próprio, PSL consegiu gradual mas firmemente pôr os assobiantes a bater palmas entusiásticas? Alguém se lembrará que Ferro Rodrigues não sabe falar, falece-lhe a oralidade, é feio e lerdo? O homem não tem culpa... mas é. Sobra a Santana o que escasseia a Ferro Rodrigues. Santana Lopes poderá ser o elemento chave para a inversão das sondagens que colocam o PS com maioria absoluta. A outra esquerda é irrelevante. O BE já percebeu que a sua própria sobrevivência depende do PSD e ou PS manterem o poder, permitindo-lhes continuarem na sua inenarrável saga e o PC... admito que não tenha percebido. Mas como é uma questão de tempo, não virá mal ao mundo que Carvalho da Silva vá fazendo o escarchéu que se conhece, ao mesmo tempo que grita que é insustentável que a direita exerça pressão sobre Sampaio.

Experiência

[2]

... é experiência mesmo. Já não me lembrava como é que "postava" mais!
.

Etiquetas:

Espumar de raiva

[1]
...e agora que algum contentamento me acontecia, com o cenário do recente euro 2004, em que algumas coisas bonitas me ajudaram a mudar um pouco o conceito em que "nos" temos, eis que o futebol acabou e comecei, de novo, a ouvir os foruns da TSF. Ouvir um forum 24 horas depois de ouvir insuspeitos lutadores da liberdade, no C1, a fazerem a apologia dos símbolos nacionais, pouco tempo passado desde que se vituperava quem ousasse sugerir que se cantasse o hino nas escolas, é obra. E faz espuma. Como os estômagos ulcerados se defendem da ferida...
.

Etiquetas: