terça-feira, agosto 17, 2004

The importance of being Sócrates

Clara Ferreira Alves (CFA) excedeu-se na sua última crónica do Expresso. Foi tão mordaz quanto brilhante e “made my day”, numa altura em que cada vez é mais difícil “fazer o dia” de muita gente. A forma como ela arrasou Sócrates (o engenheiro, claro, o José...) a propósito da ligeireza das suas citações, objectivamente tentando projectar a sua suposta componente cultural, remete de imediato para a noção de que o mal da nossa sociedade não são os Sócrates do nosso descontentamento, mas sim a receptividade que este tipo de inserção mediática dos nossos políticos (?) continua a grassar, num povo tragicamente arrastado ao longo de gerações pelo atavismo (de uns) e do chico-espertismo (de outros). É evidente que a utopia de sonhar uma sociedade de “Clarinhas” (ela que me desculpe este tratamento familiar, mas é assim que me refiro a ela junto dos meus amigos e é no bom sentido, como diria o Zé Maria...) seria o desastre... imagino uma sociedade que lesse uma tonelada de livros e soubesse “ler”, sempre que um político falasse de violinos de Chopin ou “citasse” à saciedade escritores, poetas, filósofos e pensadores. Era complicado, convenhamos. Depois, quem é que votava? Daí que a eripsela de CFA, perante o despudor dos políticos da nossa praça em citar gente de que leram frases ou máximas disponíveis nas tertúlias dos leitores de títulos de jornais de referência, tem alguma razão de ser. O exagero (dela) é que uma sociedade não é nem pode ser constituída exclusivamente de Clarinhas ( e ainda bem, não é?) e tem de ter a heterogeneidade saudável do grupo plural, multifacetado, pluricultural e morfologicamente diverso. O que não significa que necessariamente tenhamos de ser estúpidos. Daí que se aceite que a comunicação social deva conter uma fatia considerável de matéria apelativa. Não devia era faltar o pudor. Muito menos será de tolerar uma amostra tão falsa quanto mental e culturalmente pelintra da formação e estrutura dos homens e das mulheres que potencialmente nos podem vir a comandar os destinos. Mas isso... como é que se faz? Aceito opiniões...