quarta-feira, setembro 08, 2004

Tansinho, marreco

É demais. Em 72 horas fui insultado duas vezes. Não que não tenha sido insultado antes... insultos de voz grossa, testosterónicos, coisa de bigode farfalhudo, uns para mim, outros para a minha santa mãezinha que normalmente não era chamada para a contenda. Mas desta vez a coisa evoluiu para um tipo de insulto a que não estava habituado: - “Marreco” e “Tansinho”. O tansinho foi na estrada do Guincho, ali naquele sector entre o cruzamento da Areia e o Muxaxo, era domingo à tarde (juro que não ouvi a canção do Nelson Ned, fui porque me deu para ali) e os carros estavam “devidamente” estacionados nos dois lados da via. Esta é uma das situações que ainda não consegui perceber... como é que há vários anos ainda não houve um presidente de câmara, um responsável do Iep, um fulano desses, que requisitasse um GNR e lhe dissesse: - “aqui só se pode estacionar de um lado”. Há uma outra situação, de várias, e que é um relógio da torre do quartel de bombeiros da Encarnação, ali mesmo em frente ao aeroporto, que marca cinco e meia desde que eu era pequenino...e eu já não sou pequenino há algum tempo. Mas voltando aos insultos. Estava eu bovinamente encarreirado na bicha de carros quando vejo um autocarro muito grande em sentido contrário. O autocarro não conseguia progredir por que a “minha fila” seguia sem lhe dar chance nenhuma. Quando chego a cerca de 10 metros do autocarro, pensando nos desgraçados passageiros que ali deviam estar parados há muito tempo, resolvi parar o carro, encostar o mais possível, recolher o retrovisor e fazer sinal para o motorista avançar. O autocarro avançou... e quando passa por mim, o motorista range :- “tansinho”, se eu passo com o autocarro tu não conseguias passar com o carro, “tansinho”! O autocarro era enorme, o motorista era pequenino... pequenino, mas teso caraças e, obviamente, um excelente motorista, pois se ele até conseguia fazer progredir o monstro num espaço em que o tansinho (que era eu, recordemos...) não tinha o engenho para passar. O outro insulto foi há pouco. Ao fazer uma das rotundas da marginal, em direcção a Lisboa, concretamente a de Carcavelos, parei à entrada para dar passagem a outra viatura que se apresentava pela esquerda, mas já dentro da rotunda. Parei... e recebi, a partir do carro traseiro, um imediato: - Oh marreco, anda lá para a frente, estou a trabalhar... eu não estava a trabalhar, mas vinha trabalhar. Ainda esfreguei as costas no encosto mas a marreca não estava lá. Fiquei mais descansado e a pensar que ou os corcundas costumam cumprir o código de estrada ou o idiota atrás de mim deve ter conhecido um marreco na vida e acha que ele e outros como ele são umas bestas quadradas que resolveram ter uma marreca para empatar o trânsito dos que, dignamente, “andam a trabalhar” todas as manhãs na marginal. Já cansa esta cena dos insultos. Já cansa esta cena de homens minúsculos a guiar autocarros maiúsculos atingirem o clímax quando chamam tansinho alguém... já cansa estes energúmenos que andam a trabalhar e que têm de aturar os sacanas dos marrecos que andam a empatar o trãnsito. Será que é necessária uma reforma estrutural? Para se aperfeiçoar o sistema e não cairmos no imobilismo, como diz a excelente Vieira na Controversa Maresia? Ou esbarramos sempre na tal natureza humana? Neste caso, portuguesa, com certeza...