quarta-feira, novembro 17, 2004

Tamos aqui tamos nos búzios...



Santana Lopes quer os portugueses (e as portuguesas, claro...) em alto astral.

Depois de ler e me ter rido a bandeiras despregadas com este saboroso post do Fumaças que, naturalmente, me levantou o astral, pouco mais posso dizer sobre o assunto, a única coisa que posso acrescentar é o meu receio de que a Maya venha a ocupar uma secretaria de estado qualquer e que o professor Karamba dirija uma qualquer fundação de prevenção de abaixamento do Astral, ou seja nomeado Conservador da Capela dos Ossos.

Sou frequentemente acusado por amigos (e por amigas ,que isto de adjectivos comuns de dois acabou, já do tempo do Guterres) por ser demasiadamente sensível ao negativo. Incitam-me mesmo a ver Portugal e portugueses (e portuguesas, desculpem...) em diapositivo e, se possível, com legítimo orgulho no nosso cozido à portuguesa. Mas “isto” está a atingir os limites do aceitável. Eu já andava desconfiado com aquela cena da pulseirinha, mas ver o astral incluído num discurso do congresso de um dos dois partidos que me governam, ainda por cima da boca do respectivo presidente que, por acaso, até é primeiro ministro, faz-me recear o pior.

Eu sei que uma fatia muito grande dos portugueses (e das portuguesas) não dá um passo sem ir à net consultar o mapa astral; que os astros ocupam muito espaço na vida dos ditos (e das ditas): que a vida difícil, o stress, a necessidade de se acreditar em qualquer coisa; a permeabilidade que temos ao esotérico; a convicção de que os astros regem as nossas vidas; que antes de aceitarmos um emprego, escolher namorada ou tomar uma decisão importante, devemos confirmar se Júpiter está bem disposto, se a Lua está com o cio, se Marte acordou mal disposto e se a água não se interpõe entre o fogo e a terra; que a televisão do Estado concede generosos tempos de antena a videntes, cartomantes, astrólogos e correlativos em programas idiotas e imbecilizantes. Eu sei tudo isso... mas um primeiro ministro vir atirar com ao astral aos portugueses (e às portuguesas...) entre um par de incitamentos à retoma, cheira-me mal, deprime-me e faz-me pensar que corremos o risco de, muito em breve, as decisões dos conselhos de ministros serem tomadas depois de se lançarem os búzios...