terça-feira, fevereiro 08, 2005

Campanha Obélix



Os ingleses gostam de fish and chips e steak and kidney pie, os italianos de pizza e spaguetti, os alemães celebram com cerveja e salsichas, os franceses com patés, os americanos com doublecheeseburgerwithonionandmayo (blarghhhh), os belgas com frites, os esquimós com óleo de foca, os boers com biltong e mealiepap, os espanhóis com paella e torrão de alicante, os brasileiros com feijão e couve mineira, os angolanos com moamba, os moçambicanos com matapa e por aí fora, cada um com a sua e ninguém tem nada com isso.

Nós somos diferentes e melhores. A campanha eleitoral em curso mostrou o lado Obélix que (ainda) temos dentro de nós. Um churrasco da versão doméstica e geneticamente modificada dos javalis da Gália, oito varrascos inteiros assados nas ruas albicastrenses, 600 quilos de suína carne, destaparam a nossa génese guerreira e atrairam uma pequena multidão de apoiantes que se deslocaram a Castelo Branco por uma febra, um boné e uma esferográfica. De registar ainda o ar sábio e impante dos assadores de suínos, quando entrevistados pela TV (não perdem uma...), aquela cara de “haverá alguém que asse porcos inteiros como nós? Ná... isto é coisa lusa, coisa nossa” e a “maldadezinha” da informação complementar, quase sussurrada, “foi o PSD que pagou, claro, tss... tss... tsss", não podia faltar e deu o toque final que ilustra bem o nosso gene portuga e rasteiro.

Eu sei que os porcos, hoje, vêm ao mundo para cumprirem a sua nobre missão de ser comidos, nem que seja por apoiantes de campanhas de eleições. Mas, francamente, ver os cevados, inteiros, a serem tostados pelas brasas, espetados num espeto e o fácies e sorriso dos assadores fez-me pensar no meu país profundo, mesmo que essa profundeza se consubstancie em gente vinda de Lisboa ou de outros grandes centros, onde o país, em teoria, não deveria ser (mas é...) assim tão profundo.

Espera-se que o PS dê agora a devida resposta e acicate uma sabatina de iguarias para o que sugeriria uma boa cabidela, com os galináceos a ser degolados num qualquer coreto duma vila, com o sangue a espichar para tachos com vinagre ou, plano B, um caldeirão enorme de sangue e fressura de porco a ferver a que, prosaicamente, damos o nome de sarrabulho e que, já agora, haveria de entrar no Guiness como o maior caldeirão de sarrabulho jamais cozinhado. Estou certo que o menino guerreiro aceita a parada e acabe por engendrar repastos ainda mais convincentes para outras localidades. E daí, não sei. Sócrates anda assim para o irritado a lembrar Cavaco quando dizia que não tinha tempo para ler jornais, apesar de se conter nas estradas e avisar solenemente o motorista para nunca exceder os limites de velocidade (pelo menos foi o que li por aí, estas coisas têm que ser devidamente anunciadas, anda ali dedo de brasileiro...).

Tenho a certeza que se Orwell tivesse ido alguma vez a Castelo Branco e assistido a uma lusa campanha eleitoral, teria reflectido e escrito sobre o triunfo de outros porcos, que não aqueles a quem ele deu a vitória...

P.S. Já depois de escrever este post, o Telejornal mostrava uma senhora gorda vestida de verde e vermelho, com um chapéu feito de embalagens de iogurte e vários chouriços pendurados ao pescoço que acabara de ganhar um televisor como prémio pela melhor máscara. Como se isto não chegasse, o repórter perguntou: - E agora? O que é que vai fazer com a televisão? A senhora gorda pensou, pensou, como se lhe tivessem colocado uma equação de segundo grau a um incógnita e disparou, a rir: - Bou poula no quarto, carago. E ria, ria, ria e o repórter cumpriu a digna missão de informar e ela ria, ria, ria e eu fico na dúvida se publico o post ou se vou comer um leitão a Negrais que até é perto e o homem do restaurante costuma oferecer carteirinhas de fósforos...

7 Comments:

At 7:09 da tarde, Blogger Brigida Rocha Brito disse...

Na relação "iguarias" - povo, acrescento: os caboverdianos, cachupa e os santomenses, o magnífico calulu.

 
At 8:51 da tarde, Blogger Madalena disse...

O Triunfo dos Porcos é um dos melhores livros que eu li.
Conselho amigo: deixa lá comer o porco quem quer comer o porco. O Sttau Monteiro dizia que todos os homens têm um preço. Uns vendem-se por um volskswagen outros por um andar no Areeiro. Pode parecer que agora se vendem por uma febra, mas eles estão a enganar os políticos. Vão comer à borla e não vão votar sequer.
Beijinhos

 
At 8:52 da tarde, Anonymous Anónimo disse...

Gostei

 
At 11:00 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

Brigida

E acrescenta muito bem... conheço a cachupa (já comi uma no Tarrafal) e conheço o calulu de peixe, mas também não podia mencionar as iguarias todas, né? :)
Mas registo esse carinho pelas iguarias africanas :))

 
At 11:04 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

Madalena

Todos os homens têm um preço, dizia ele, mas "felizmente há luar" e "um homem não chora" :))
Quanto oas porcos... eu deixo Madalena, mas tenho uma vaga impressão que não imterpretaste bem o post. Deco andar demasiadamente denso, sei lá... mas eu deixo, Madalena, eu deixo. Beijinhos :))

 
At 11:06 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

Anónimo

Palavras curtas dizem muito. Gostei que tenha gostado, mesmo vindo o elogio de forma anónima. Obrigado.

 
At 11:16 da tarde, Blogger Madalena disse...

Eu vou "na" cabidela claro!
Mas não "na cabidela do PS".
Trabalho é trabalho, conhaque é conhaque!
Sugiro-te: Horizonte Azul na Moita.
Tipo tascazita quase a deixar de ser tasca, com um cozido à portuguesa e uma cabidela divinal.
Beijinhos e continua assim com bom humor que faz bem a quem te lê e a ti também, certamente.
A Passadita já voltou. Que bom!

 

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