quarta-feira, abril 20, 2005

A Lusa Cátedra




[324] - A eleição do Papa trouxe-me uma grande perplexidade. Não pela escolha em si, que eu nestas coisas de Igreja sei pouco e não ia começar a debitar opiniões sobre um homem de quem apenas comecei a ouvir no início do Conclave.

A verdadeira perplexidade foi a constatação de como tantos portugueses sabiam tanto sobre Ratzinger. Da sua passagem pela juventude hitleriana até à cor dos sapatos não há nada que tenha escapado a este recente up-date do conhecimento luso. E é ouvir a rádio, as televisões e ler os jornais para constatarmos a uníssona opinião de que este Papa não serve. A juntar à inevitável intervenção de Soares, Saramago, Louçã e correlativos, onde a sua absoluta intolerância (valor que, afinal, tanto apregoam) e a sua própria ortodoxia contribuem decisivamente para a opinião massificada que se tem registado. É triste. E nem é bonito, para contrariar o ditado.

Se me ativesse apenas a um posicionamento pragmático, eu diria que a escolha de um Papa tem a ver com a Igreja e com os seus líderes e ninguém tem nada com isso. Ela (a Igreja) saberá o que fazer dentro dos seus próprios ditames. Num posto de vista mais lato… pois eu também gostaria que a Igreja acomodasse uma visão universal de tolerância, modernidade, justiça e sabedoria que pudessem conduzir à flexibilização de algumas políticas que, consabidamente, não contribuem para o bem estar e desenvolvimento dos povos. Mas como não conheço Ratzinger para além da catadupa de informação que me tem caído no colo nos últimos dias, terei sempre de lhe dar o benefício da dúvida. Maior dúvida concederei á bondade da informação que recebo. Porque é sectária, desonesta, clubística (no mau sentido) e enviesada. A menos que toda a gente esperasse que o novo Papa no urbi et orbi dissesse que ia acabar com o preservativo amanhã, ordenar mulheres depois de amanhã e abrir uma clínica de aborto na Capela Sistina na semana que vem, já que me parecem ser estes os três pontos mais referidos como incontornáveis para a modernização da igreja. Não tenho ouvido muitos mais e, todavia, haveria tanto mais para referir…

3 Comments:

At 4:39 da tarde, Anonymous Anónimo disse...

É realmente engraçado como tanta gente sabe sobre tanta coisa! O povo português sabe sempre opinar sobre qualquer assunto seja ele de que área for. A nossa cultura, se fôr medida numa mesa de café, é com certeza a mais elevada do mundo... É pena que depois ninguém queira assumir coisa nenhuma nem consiga resolver nada. Isto tudo para dizer que também eu, que devo ser completamente ignorante, só ouvi falar do Ratzinger (perdão do Cardeal Ratzinger) agora.

Se vai ou não ser um bom Papa penso que apenas o futuro o dirá. Correndo o risco de mostrar toda a minha ignorância, não era também o Papa João Paulo II considerado um conservado? Não dizem agora que ele fez um dos melhores papados de sempre?

 
At 9:12 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

Anónimo/a

A nossa "cátedra" é visceral, própria de quem é "pequenino". Até Hergé já o tinha notado, como se viu pela criação do "nosso" Oliveira da Figueira" :))

 
At 7:19 da manhã, Blogger lilla mig disse...

É curioso falares disso, realmente hoje em dia leva-se com tamanha avalanche de informação que chega a dar náuseas! E nessa náusea, o nosso cérebro às vezes já está a ser lavado e a tomar uma direcção! Um perigo! Temos a sensação que sabemos tanta coisa e afinal, muitas vezes, não sabemos é de nada, ou só uma ínfima parte das coisas... Assusta-me este fenónemo da massa "informada"...

 

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