terça-feira, maio 22, 2007

Incapaz e incapacitados



[1758]

Meu caro
António

Acabarei por morrer sem algum vez entender esta lógica de proteccionismo que a esquerda tanto apregoa, sobretudo se e quando esse proteccionismo mascarado de solidariedade social enforma convicções ideológicas desfasadas da realidade de qualquer instituição, privada ou pública, onde se deseja justiça, equidade e, atenção, excelência e retorno de investimento. Enquanto persistir esta ideia de que o emprego é um dado adquirido, leia-se o cidadão nasce e tem direito ao emprego, mesmo não se sabendo quem o cria, tudo estará mal e tudo se manterá em conflito que em última análise convém à esquerda, por um lado, e aos vulgarmente designados idiotas úteis, por outro, que vão actuando em linha com o politicamente correcto sem se aperceberem que estão a contribuir objectivamente para o mal estar de toda a gente.

A verdade é que, lá está, não lograrei nunca ser convencido porque carga de água é que
um concurso público tem obrigatoriamente que incluir incapacitados. Um incapacitado, por definição, não é capaz de desempenhar as funções que eventualmente o concurso necessita, pelo que é de toda a justiça que o incapacitado seja apoiado pelas estruturas sociais, mas não exijamos que um incapacitado concorra nas mesmas condições de um apto. No extremo, acabamos por cair na discriminação positiva, na affirmative action ou nas famigeradas quotas. Assim, deixemos os capacitados trabalhar e trate-se e ampare-se os incapacitados. E habituemo-nos a raciocinar em ermos de excelência e retorno de investimento, tanto no privado como no público e deixemos “o resto” para contarmos aos netos em forma de episódios excitantes dos heróis soixante-huitards, sendo suficientemente benévolos, até, para escamotearmos os danos que esses “heróis” nos trouxeram a médio prazo.

Desculpa qualquer coisinha e aceita um abraço.


.

Etiquetas: ,

6 Comments:

At 10:40 da tarde, Blogger António Chaves Ferrão disse...

Caro Espumante:
Para quem já recebu o epíteto de "Superior Moral do Goulag", está-se mesmo a ver, os teus epítetos (soixante-huitard) soam realmnente a um suave políticamente correcto. No que te transformaste...
Fiz mal em exibir apenas o artigo do decreto-lei do concurso para professores titulares. Muitas vezes os professores têm redução de horário por situações motivadas pela própria actividade profissional. A tua irmã já esteve nessa situação. Tratava-se de uma incapacidade parcial, mas a coisa assume uma conotação diferente quando passas o adjectivo para substantivo: uma incapacitada. Pequenos truques verbais, nada inocentes, que registo.
Podias ter deixado um comentário. Assim, dedicando-me um post, enches-me o ego. Não merecia tanto.
Um abraço.
PS: os professores titulares vão dedicar-se a tarefas como a avaliação de outros professores, além de se tornarem elegíveis para cargos da administração geral das escolas, com redução da componente lectiva, logo, não faz qualquer sentido aqueles que já têm redução dessa componente ficarem de fora. No geral, não são aleijadinhos. No caso que me é próximo, tratou-se de agravamento da miopia entre as 21 e as 23 diopteris.

 
At 10:51 da tarde, Blogger António Chaves Ferrão disse...

Espumante:
Estás convidado a partilhar aquele conhecimento da tua especialidade que achas mais importante inscrever como peça da cultura geral. No idiotamente inútil ferrao.org. Obrigado antecipadamente pela colaboraçao.

 
At 1:48 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

antonio
Para quem já recebu o epíteto de "Superior Moral do Goulag", está-se mesmo a ver, os teus epítetos (soixante-huitard) soam realmnente a um suave políticamente correcto

nao entendi...

Tratava-se de uma incapacidade parcial, mas a coisa assume uma conotação diferente quando passas o adjectivo para substantivo: uma incapacitada. Pequenos truques verbais, nada inocentes, que registo.

claro que entre uma incapacidade temporaria e uma incapacidade permanente vai uma distancia que faz a diferença. Todavia, nada me garante que para o concurso em apreço nao fosse necessario alguem que nao sofresse de qualquer incapacidade, por muito temporaria que fosse. Portanto, nao ha aqui nenhum truque verbal da minha parte.

No fundo, o pormenor observado nas regras do concurso terah a ver com a costumada batota nacional. Sabe-se, ouve-se na radio, le-se nos jornais, conversa-se, a propria ministra ja o referiu publicamente, que ha muita batota nas incapacidades. Ha incapacitados temporarios ha anos, da mesma forma que ha baixas fraudulentas, greves feitas e nao descontadas e ha, sobretudo, um sentimento de intangibilidade nos funcionarios publicos, com os resultados que se conhece.
Este anuncio que referes, se fosse na Suecia ou na Finlandia, porventura nao faria alusao a incapacidades. Mas a diferença estah que lah, ao contrario de cah, nao ha batota.
como nota final, fiz post em vez de deixar comentario, porque... nem sei. Nao me ocporre sequer se terah havido alguma razao especial para isso.

Um abraço

 
At 9:42 da tarde, Blogger António Chaves Ferrão disse...

...ministra ja o referiu publicamente, que ha muita batota nas incapacidades...


Espumante
Agora sou eu quem se espanta. Que tu exprimas a tua suspeita de que há baixas fraudulentas, compreendo. O mesmo suspeito eu. Mas penso que não andamos a brincar às eleições de quatro em quatro anos para que um ministro venha dizer que suspeita que há baixas fraudulentas, e que, por esse motivo, tem que ajustar o aparato legislativo a essa realidade social. Porque, se admites isso, admites que foste eleitor para nada: organizar o estado para que estja defendido de actos de usurpação é função do governo: foi para isso que tu, e eu, fomos votar. Portanto, quem se ofereceu para prestar esse serviço, não tem o direito de dizer que não quer cumpri-lo, seja lá qual fôr a razão. Só aceito que o faça se se demitir imediatamente e devolver todos os emolumentos pagos pelo erário para que fumprisse uma missão que se recusou a fazer.
Suspeitas, são para as conversas de café: para os responsáveis, serão tantos casos detectados, tout court.
Quanto ao resto: há que presumir a inocência antes da condenação. Trocado por miúdos: há que legislar como se o País fosse habitado por pessoas honestas, e não por vigaristas.
Mas parece-me que aqui entramos em desacordo: eu hesitaria - é o mínimo que posso dizer - antes de ewnveredar pelo rompimento declarado destes princípios.

 
At 2:44 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

antonio
Do meu modesto ponto de vista, usas com mestria a arte da difusao de adereços, em prejuizo da cenografia que interessa. No fundo, e passando por cima de mil coisas que dizes e que mereceriam comentario mais apurado (aquela entao de achares que me presto ou prestaria ao rompimento de principios basicos das premissas que devem reger os comportamentos humanos eh um bom exemplo, helas!) a questao de fundo permanece sobre a opiniao que tenho de que um concurso nao tem que prever excepçoes sobre a possibilidde de incapacitados (temporarios ou permanentes) usufruirem das mesmas condiçoes de um "apto". Eh a minha maneira de ver as coisas, ao mesmo tempo que me permito sugerir-te a ideia que tenho de que o teu ponto de vista, esse sim, eh politicamnete correcto, mas sem fundamento que o sustente. A esquerda canta os valores da utopia porque na vida real e do ponto de vista do bem estar e desenvolvimento dos povos ja nada ha para inventar. Ou haverah, mas nada que a esquerda possa apresentar de novo, porque de ideias esgotadas ou ultrapassadas pelo tempo. E a partir desse esgotamento foi o deserto. Dai a necessidade de se agarrarem ah nobreza de principios que poderiam espelhar-se em exemplos como o deste concurso mas que nao tem qualquer consistencia, pelo contrario, contribuem com efeitos opostos ao desejado. Falo da esquerda esquerda, da esquerda pura, nao falo da esquerda idiota que ao contrario da "boa esquerda" se vai utilizando de temas fracturantes de reconhecido impacto no imediato mas comprovadamente estereis a medio termo. Exemplo, Bloco de Esquerda.
E aqui temos como de um concurso para professores se pode saltar para a adopçao de crianças por homossexuais. Mas tenho de trabalhar, juro... e comigo nao ha concurso que me valha. Ou produzo... ou acabo numa estaçao de metro a tocar concertina. E antes que isso me aconteça, deixa-me ver se consigo fazer qualquer coisa. :)
Um abraço

 
At 4:45 da tarde, Blogger António Chaves Ferrão disse...

Só para lembrar:
No fundo, o pormenor observado nas regras do concurso terah a ver com a costumada batota nacional. Sabe-se, ouve-se na radio, le-se nos jornais, conversa-se, a propria ministra ja o referiu publicamente, que ha muita batota nas incapacidades.

O trabalho dos titulares será fisicamente menos exigente, pois serão os primeiros a ficar com reduções de horas lectivas. Também tu, caro espumante, esgrimas com mestria a parte do discursoque te interessa...
Um abraço
PS: se a esquerda está morta, porque tanto te incomoda? Os mortos têm direito ao sossego.

 

Enviar um comentário

<< Home