terça-feira, outubro 30, 2007

Coisas fedidas - os inevitáveis



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Habituei-me a um país (o meu…) em que ciclicamente nos submetemos à opinião de certas personagens, inevitáveis em todos os sectores da vida nacional. Desde os grandes acontecimentos de imenso alcance social, politico ou económico, até à D. Mariquinhas, que deu um espirro e pegou uma gripe ao vizinho do Lote 5. E digo habituei-me porque até há onze anos atrás andei por outras latitudes onde as pessoas eram, digamos, mais iguais ou, pelo menos, as nossas opiniões não eram formadas em torno de personalidades impostas pela comunicação social.

E foi assim que atravessei épocas de personalidades diferentes, ditadoras de opinião. Ocorre-me Mário Soares, Sampaio, Louçã e outros obrigatórios do regime. “Então Dr. Sampaio, o que acha daquele restaurante que foi fechado em Tavira, por falta de condições de higiene”? E o Dr. Sampaio emitia a sua douta opinião, se necessário fosse com uma lágrima ao canto do olho. “Então Francisco Louçã e o que acha da fábrica de sapatos que fechou na Varziela? E o Dr. Louçã lá nos explicava os inextrincáveis e tortuosos caminhos do capitalismo selvagem, insultava uns quantos com a jactância do costume e anunciava logo uma campanha de desobediência civil.

Mas tudo funciona por modas. A moda agora é Berardo. Não há emissão de gases poluentes pelo normal flato de uma vaca holandesa que não mereça um adequado comentário da douta criatura. Faz parte, no momento da vida nacional, e tudo passa por ele. Do Benfica ao BCP, das cicadáceas da África do Sul ao turismo da madeira, do impressionismo de um pintor que agora não lhe se lhe ocorre o nome aos horários de verão da TAP.

Haverá uma explicação para este estado de coisas. Por hipótese o servilismo idiota de muitos dos nossos jovens jornalistas que tentam desbravar a pulso de microfone uma carreira mediática. Mas convenhamos que a coisa fede. E de coisas fedidas andamos nós fartos. Concretamente sobre Joe Berardo, eu tenho de dizer que nutro o maior respeito pelos self made men, mas é preciso não esquecermos a proporção das coisas e o efeito perverso que a falta de estofo pode causar numa generalizada falta de cultura. Com a fanfarronice própria da lusitana gente, dá uma mistura explosiva de imbecilidade e arrogância.
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