terça-feira, março 23, 2010

Depois admiram-se de quê?


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Nesta modorra de incipiência mental em que parece termos arrumado efectivamente as nossas angústias existenciais, dos acontecimentos dos últimos dias duas coisas me chamaram a atenção.

Uma é o fenómeno da corrupção. A este propósito tenho ouvido ultimamente uma colecção expedita de especialistas na matéria que debitam um fluxo de teorias e de «medidas» necessárias e urgentes para a conter. A ela, à corrupção. O interessante é a referência que não escapou a nenhum dos intervenientes sobre o momento, qual seja a dos concursos de obras públicas que invariavelmente custam muito mais que o valor dos concursos. Cheguei a ouvir que é prática corrente empresas de construção e obras públicas apresentarem propostas de baixo valor para ganharem os concursos, sabendo que mais tarde poderão não só rectificar esses valores como, ainda, aumentá-los em proporção mais ou menos escandalosa. Ora… parece-me curial que, neste caso, é fácil saber quem são os corruptores, os activos e os passivos. Pelo que de duas uma, ou estará tudo satisfeito com o status e a conversa é conversa mole para adormecer o pagode ou então está tudo doido, uma asserção mais ou menos recorrente que me tem acudido ao espírito neste últimos tempos.

Outra é a forma como os dislates desta energúmena rapaziada das claques do pontapé na bola tem espoletado doutas explanações de sociólogos, psicólogos e, pasme-se, até antropólogos, com um rosário de explicações científicas sobre a facilidade com que esta fauna dos autocarros coloca um cachecol e desata à pedrada, partindo vidros de carros, cabeças de pessoas, montras, postos de portagens e áreas de serviço. Por muito científica que seja a base de reflexão daquelas eminentes criaturas parece que há duas coisas que estão a ser decididamente esquecidas - a impunidade de que se goza (não me sai da cabeça o tom didáctico com a GNR se ufanou de não ter havido detenções durante os recentes distúrbios da recente final de futebol no Algarve) e a alarvidade de alguns dirigentes de futebol, muito provavelmente com Pinto da Costa à cabeça, que exercitam um permanente terrorismo verbal junto dos seus prosélitos, a propósito de tudo e a propósito de nada, mas sempre na base da vitimização a que são votados pelo «poder» de Lisboa. É um caldo de cultura fácil, de efeitos rápidos. Ainda há poucas semanas por exemplo, eu ouvi Pinto da Costa a levar as massas ao rubro a propósito das injustiças de que o F.C.Porto estava a ser vítima, berrando a luta do clube conta tudo e contra todos, glorificando jogadores acabados de ser punidos por comportamento violento e criando um clima de autêntica guerra, para não falar das teorias de gente ilustre que vem a programas de debate (!!!) desportivo, afinadinhos pelo mesmo diapasão, como Pôncio Monteiro e Guilherme Aguiar. Depois admiram-se de quê?

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