sábado, junho 12, 2010

Gaan na Bafana Bafana


O sortilégio da globalização ou o dilema dos "poras" (Clicar na foto)

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O inicio da «World Cup» traz-me um registo de memória mais ou menos dissimulado pelo tempo que vai inexoravelmente passando sobre nós.

Porque conheço profundamente a África do Sul, país que me acolheu quando a minha voluntariosa e ingénua juventude foi informada de que eu tinha perdido uma guerra que, em Angola, já ninguém dava por ela. Fui à vida e o acolhimento que tive foi logo uma primeira lição. Porque em vez de choradinho, caridade e solidariedade politicamente correcta aprendi que o melhor acolhimento que se pode dar a um necessitado é dar-lhe os meios para trabalhar, numa lógica de vantagem mútua. E foi assim que tive o privilégio de trabalhar e conhecer um país fantástico, onde aprendi o conceito de rigor, o respeito pela primado da competência e profissionalismo, a consciência pelo return on investment (sendo que o meu investment era o meu trabalho) e uma expressão que registei a partir de um anúncio de uma marca de cigarros: Best Value for Money.

Conheci o país de Norte a Sul, seja de Potchefstrom a Cape Point e de Leste a Oeste, ou seja do Transkei a Walvis Bay, na altura ainda parte da SWA. Por estrada e por avião. Numa primeira estadia no Natal, percorri, em trabalho, cidades como Dundee, Vryheid, Newcastle e Pongola. Conheci Umhlanga Rocks (onde assaltaram os gregos e pronuncia-se Humshlanga)…), Elangeni, Thousand Hills, Pietermaritzburg (para quem não sabe, a capital do Natal e não Durban), a Zululand. Passeei de barco em Midmar Dam e subi ao topo do Drakensberg por Sani Pass, chegando mesmo a conhecer Maseru, capital do Lesotho. Viajei vezes sem conta entre Durban e Johannesburg, extasiado pela paisagem e pela qualidade das auto-estradas, passando por Escourt (terra do bacon), Mooi River, Ladysmith, Harrysmith, Bethelem (já no Free State) e, no Reef, conheci as «pedras da calçada» desde o Lion Park a Kyalami (onde assisti à primeira corrida do Rubinho Barricelo e que me foi apresentado por uma amiga comum), Halfwayhouse (restaurante com maior número de pratos do dia do mundo), Hartbeespoortdam (onde vi asa delta pela primeira vez), os jacarandás de Pretoria, o cenário característico das minas de ouro esgotadas e devidamente enquadradas paisagisticamente com «capim Guatemala». Johannesburg itself, com o espantoso Carlton Centre, Hillbrow, os northern Suburbs de Sandton, Randburg, Rosebank e Marlboro, a opulência de Houghton e townships como Alexandra, Tembisa e Soweto, locais que a propaganda actual diz que eram vedados a brancos…) e, já agora, até uma filha me nasceu em Kempton Park. Fui a Suncity primeiro e Lost City mais tarde (passando por Krugersdorp e pelo actual quartel-general dos nossos futebolistas em Magaliesberg), percorri o antigo Western Transvaal e a paisagem idílica de Neslspruit a White River, Barberton, Hazyview, Sabie, o inevitável Kruger Park e fiz algumas vezes o trajecto Johannesburg/Capetown de carro. Ceres (terra dos sumos), deserto do Karoo, Beaufort West, Paarl (vinhas, vinhas e mais vinhas…), Somerset West e Stellenbosch (universidade), Hermanus, Strand, Gordon´s Bay (fabulosa), Hout Bay (igualmente fabulosa e os seus fabulosos fish platters e, de caminho, contemplando as focas nadando por ali…), Mossel Bay e, seguindo depois a Garden Route até Durban, passando Knysna, Port Elizabeth e East London ao longo de, quiçá, uma das mais belas estradas do mundo, são nomes de locais que conheci bem e que registei com emoção.

Podia escrever três vezes mais linhas falando deste país, de pessoas, de assistência média, do «apartheid», dos problemas sociais, do clima, da orografia, um pouco de História e da guerra, da gastronomia, da cultura, mas isto chega para dar o enquadramento à emoção que hoje sinto em rever locais que a televisão me mostra a propósito da World Cup. Toda aquela gente, os carros, os locais onde estão implantados os estádios, o sotaque, os braais e até os assaltos aos hotéis fazem parte de um fenómeno muito próprio, propício a uma análise epistemológica e muito familiar. E por tudo o que disse no princípio do post e pela proximidade gerada por este campeonato do mundo aqui deixo um genuíno


Gaan na Bafana Bafana, toon die "buggers" hoe eg sokker gespeel word. Leer hulle'n les wat hulle nooit sal vergeet nie

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12 Comments:

At 10:13 da manhã, Anonymous Alexandra disse...

O remate é que percebi perfeitamente. Vá lá, traduza isso para indigentes de Africander. Quanto ao resto, o que mais acima do remate escreveu, serviu para consolidar o que fui pensando daquele país, e ainda penso, ou seja, que o mesmo ficou estruturado para ser o melhor país de África.

 
At 10:34 da manhã, Blogger Nelson Reprezas disse...

Alexandra

GO, go Bafana Bafana, show the buggers how real soccer is played. Teach them a lesson they will never forget.

Ou, como diria o Laurodérmio: "...Vou comer uma bifana e jogar ao soco com uma série de escaravelhos. E dar-lhes uma lição que eles nunca mais se esquecem da neve..." :))))

Alexandra, há aqui duas hipóteses, ou a Alexandra conhece o humor do Herman e lembra-se das traduções do Laurodérmio e, aí, vai achar um bocadiiiiiinho de graça à coisa... ou não conhece as piadas do Laurodérmio e vai achar que eu sou um idiota chapado, Mas eu arrisco na sua cultura hermaniana :))) até porque a tradução em inglês está correcta.
Já agora, a Alexandra que aparece no post é mesmo uma township. :)) Entre Kempton Park e Chkloorkop.
Um bom fim de semana!

 
At 10:35 da manhã, Blogger Dulce Braga disse...

Tô com a Alexandra...alivie-me esta sensação incomoda de analfabetismo cronico...tô roida de curiosidade!:))*

 
At 2:30 da tarde, Anonymous Alexandra disse...

Na senda do Laurodérmio, época de ouro do Herman, sempre lhe conto uma historieta: no primeiro ano de inglês do meu pai, entra na sala de aula o atrasado professor, por certo também pouco versado, e atira à laia de cumprimento "better later then never". Perante o ar de sapiência de imediato colocado pelo meu pai, insta-o a traduzir, o que este, não se fezendo rogado, fez com um pomposo "leite branco como a neve".
Tenha um bom fim-de-semana. E só mais uma coisinha, Alexandras há muitas.

 
At 3:46 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

Dulce

E eu ia lá deixar uma dama por aliviar???? Em todo o caso, já fiz a respectiva tradução à Alexandra (àquela, à do comentário, que Alexandras há muitas mas que fizeram o comentário, só há uma a Sobral e mais nenhuma...

Dando por adquirido o seu alívio resta-me recordar-lhe um poema que tenho uma vaga sensação de já lho ter recitado mas pode ser, claro, impressão minha, a gente hoje recita, recita, recita e acaba por se perder... e que reza qualquer coisa como isto:

Roeu as unhas primeiro
Depois os dedos roeu
Foi roendo o corpo inteiro
Roeu-se toda... e morreu


Não se deixe, assim, roer pela curiosidade. Muito menos pelo analfabetismo crónico. Melhor mesmo é não se deixar roer por nada nem por ninguém. Nunca se sabe quando a roem toda e depois, Dulce... kaput!
*

 
At 3:52 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

Alexandra

Registo com satisfação que conhece os tempos áureos do Herman, pelo que m permito presumir que tenha achado um pouquiiiinho de graça à tradução que fiz no comentário anterior :)))
Quanto a haver muitas Alexandras... olhe que não, doutora, olhe que não... :))) pelo menos eu não conheço tantas como isso. O "isso" conhece muitas mais :)))

Agora é que é, bom fim de semana e obrigado por este minutinho de descompressão, que é o que se leva nesta vida!

 
At 7:59 da tarde, Anonymous IL disse...

Produção tua????

 
At 9:06 da tarde, Blogger estouparaaquivirada disse...

Bem, vamos lá compreender melhor este complexo post...
Vais estar muito dividido???? por quem vais torcer???
Já vi, que mesmo que percam portugueses e sul africanos para ti este campeonato será sempre especial porque podes matar saudades da terra e das gentes.
xx

 
At 8:33 da manhã, Blogger Nelson Reprezas disse...

IL

Iap... tu é que gostas de desmerecer dos meus skills :))))))

 
At 8:34 da manhã, Blogger Nelson Reprezas disse...

papoila

Claro que torço por Portugal... mas vou tendo ramificações genealógicas que vão estando divididas, como podes ver pela foto :))))

 
At 4:14 da tarde, Anonymous Vitor Correia de Azevedo disse...

Deve ser uma trabalheira, viver naquela terra. Só para fixar os nomes das cidades, dever ser obra. Já agora. É Magaliesberg ou Magaliesburg?

 
At 9:25 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

Vítor Correia de Azevedo

É "burg" e é "berg".
O sufixo "burg" designa cidade, vila, ou aldeia e o sufixo "berg" designa orografia. É assim que a grande cadeia orográfica do Northern Transvaal, a sudoeste de Pretoria se chama de Magaliesberg ou as grandes montanhas (berg) de Magalies. Já Magaliesburg se refere a uma pequena vila na estrada que sai de Johannesburg a caminho de Rustenburg e Sun City. Neste caso, como é natural diz-se "burg". Mas na África do Sul o mais corrente é dizer-se Magaliesberg porque é mais abrangente, refere-se às montanhas, a um grande lago (Hartbeesportdam) e a pequenos agregados populacionais.

É o quee posso informar cobre o tema.
um abraço

 

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