quinta-feira, setembro 02, 2010

Uma curta reflexão sobre os acontecimentos de Maputo





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Dez mortos e noventa feridos mais cento e cinquenta detidos são o resultado infeliz da violência que estalou em Maputo. Se a violência e o saque indiscriminado são inaceitáveis e, a menos que as pessoas tenham a memória fraca, Maputo já anteriormente foi palco de violência urbana apesar de resultarem de protestos sectorizados, como foi o caso dos "chapas", desta vez há que reflectir que tudo parece indicar para uma manifestação espontânea do povo cansado da dificuldade/impossibilidade de acederem a produtos de primeira necessidade. Pelo menos não há indícios seguros de que exista um rosto responsável pela organização das manifestações. Aparentemente as pessoas foram mesmo mobilizadas pelo seu profundo descontentamento através do recurso a simples "sms" que se espalharam pela cidade, não houve organizações sindicais e muito menos a pífia e amestrada Oposição a patrocinarem os acontecimentos. E isso, queiramos ou não, é saudável, com o devido respeito por quem morreu. Uma sociedade civil que consegue paralisar uma cidade, desde o aeroporto às instituições estatais, passando pelo comércio, restaurantes e tornar a bela capital do Índico numa cidade fantasma (as imagens da televisão bem o mostraram) deveria recolher o mérito da aparente genuinidade dos seus protestos.

Sorrio ao registar as reacções orgásticas dos arrivistas do costume (não lá, mas aqui pela Lusitânia…) já a falarem furiosamente no fosso crescente entre ricos e pobres, em neo-liberalismo e em sistemas políticos (não perdem uma…), como afinadores de órgãos de igreja nas catedrais do reino. Estes “especialistas” não percebem nada de África nem de africanos, limitam-se a fazer o chinfrim do costume. Não referem, porque não podem referir, não sabem, não viram, não têm a noção de que um levantamento deste tipo há uns tempos atrás na cidade de Maputo era simplesmente impossível. No tempo em que os moçambicanos “bichavam” horas seguidas para levantar um quilo de carapaus, que eram um dos escassos bens que podiam levantar. Já a “grimpa” não podiam "levantar" sob pena de serem agarrados, presos e enviados para serem reeducados. Uns malcriados, os moçambicanos naquela altura. Agora, pelo menos, a conjuntura permite que se revoltem e digam livremente para os directos das televisões o que lhes vai na alma.

Descontados os saques, os mortos e os feridos, talvez os portugueses tenham alguma coisa a aprender com os moçambicanos. Aprender a correr com esta rapaziada malsã que nos governa e se governa, mas em acções desenquadradas dos chefes de orquestra que há décadas se governam (eles também) a “enquadrarem” e a parametrizarem a manada lusa. Mesmo com um diligente Bloco a ensinar a grei lusitana à desobediência civil ou a patrocinar a heróica “conquista” dum pífio campo semeado daquele horrível milho inventado pelos capitalistas e que dá pelo nome de transgénico.

A revolta moçambicana teve, assim e pelo menos, o mérito de parecer ter sido genuína.

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2 Comments:

At 11:54 da manhã, Blogger Nelson Reprezas disse...

(especial para os que conhecem a cidade).

Contactei com amigos residentes via Face book que me confirmaram que cerca das 10 horas da manhã (9 em Portugal) havia de novo estradas cortadas, incluindo a via rápida para o aeroporto, junto à "estrela" e Ministério de Agricultura. Também na extensão da Julyus Nierere a caminho da Universidade EM havia muito tiroteio, pneus a arder e as ruas começam a estar desertas. Para a Matola e Machava só de escolta e mesmo assim os carros são apedrejados. Quase todas as lojas fechadas e escola portuguesa também fechada (mas isto da escola sabe-se porque a directora, uma tal Dina Trigo Mira está a ser entrevista pela TSf ao minuto) :))) Também correm rumores (e que poderão não passar disso mesmo, de boatos) que residentes em condomínios estão a receber avisos por sms para abandonarem porqwue vão atacar esses condomínios. O conselho de ministros está em reunião extraordinária.
Uma nota final mas esta ainda é de ontem foi eu ter ouvido (ninguém me contou) a repórter da TSF, Mafalda Brízida "localizar" a Beira a 400 km de Maputo (!!!) e afirmar que lá também houve distúrbios mas a polícia "interviu". Ora se "interviu" está "intervido" e não se fala mais nisso!...

 
At 9:44 da tarde, Anonymous Anónimo disse...

Oh maravilhoso povo que Guebuza exorta.
Oh abusado povo que os 25% suporta.
Lembro.me de ti Armando esganzelado frelimo de olhos esbugalhados com a arma na mão....
Atiras ao teu querido povo que há 35 anos só se troça?
oh quem abusa oh samora oh marcelino oh chiça ano após ano
solta.te povo que as amarras são de pano

 

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