segunda-feira, maio 02, 2011

A insustentável leveza...



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Há vários grupos de cidadãos, diferenciados por filiação clubística, estado civil, orientação sexual, profissão, estado de saúde, detentores de riqueza, uma variedade extensa, por assim dizer, de situações que nos permitem classificar um cidadão. O José é do Benfica, solteiro, trolha, sofre de uma hérnia discal, remediado… por exemplo. Mas há um grupo notoriamente olvidado, qual seja o de comentador regimental dos fóruns da TSF. O comentador dos fóruns é maioritariamente masculino, meio bronco, idiota inteiro na maioria dos casos, não se sabe bem mas deve usar bigode, tem um negócio de água a ferver, aldraba nas finanças e comenta invariavelmente sobre a moralidade exigível a todos os cidadãos da paróquia. Relativamente aos americanos, ele sabe ainda que o americano é inculto, não sabe qual é a capital da Itália, não imagina qual a vila portuguesa onde por obediência à tradição se autoriza os touros de morte, desconhece em absoluto os actores de novela da TVI (uns incultos é o que eles são), é imperialista e não tinha nada que invadir o Iraque nem prender terroristas em Guatanamo. Além do mais, tem sérias reservas sobre a veracidade da queda das Torres Gémeas, aquilo é obra da CIA. Do Bush, quem sabe até se da NASA e aquilo do Bin Laden foi um bluff por causa do petróleo.

E é neste enquadramento que consegui (juro…) ouvir o fórum da TSF de hoje onde, debalde, tentei ouvir uma opinião minimamente estruturada, pró ou contra, sobre a morte de Bin Laden. De tudo ouvi um pouco, o diapasão imutável na urdidura da conspiração e do abominável feitio dos americanos que os faz espalhar terror e miséria pelo mundo. Por causa deles, temos esta grande desigualdade social em Portugal, poderosos, banqueiros, trabalho precário e, naturalmente, Passos Coelho. Por isso ouvi um rosário longo e estarrecedor de teorias capciosas sobre a morte de Bin Laden. De verdades que o cidadão português conhece e que os americanos distorcem, não hesitando mesmo recorrer ao «fotoshop» para fingir que a foto mostrada era de Bin Laden, convenientemente sepultado no mar.

Sendo fastidioso referir o chorrilho continuado de dislates ouvidos sobre o assunto, não resisto em eleger o comentário que, sem sombra de dúvida, elegi como coroa de glória de tanta asneira, provindo de um ouvinte do Norte. Segurem-se:

- Como é que podemos acreditar nos americanos? Agora que estava tudo virado para a Líbia eles lembraram-se do Bin Laden. Isto traz água no bico. Não nos podemos esquecer que foram os americanos que fizeram aquele filme com o Sylvester Stallone a fazer de Rambo a ajudar os talibãs contra os russos…

É importante perceber que esta frase é dita à séria, sem gozo nem risada. E sem gozo nem risada meditemos nela, na certeza de que em cerca de hora e meia de fórum foi «disto» que se ouviu. Talvez «disto» se obtenha muitas respostas para as questões que emergem do mero facto do fado lusitano.






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