sábado, maio 28, 2011

Obrigado, Joana

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Andava há uns bons dois dias a mastigar como é que eu havia de dizer isto, exactamente isto, sem tirar nem pôr, até que a Joana se encarregou de o fazer por mim. Como ela o fez com o brilho habitual e aquela clareza e qualidade invejáveis que a caracterizam, limito-me, comodamente e com a devida vénia, a copiar.

«José Sócrates habituou-nos ao longo de seis anos ao pior, e os anos que o antecederam não foram propriamente bons. Foi um péssimo primeiro-ministro que levou o país à bancarrota, negando as evidências, ocultando factos, mentindo. Viu-se, ele e a sua família, envolvidos em casos da justiça, esbanjou milhões em projectos sem nexo nem futuro, foi autoritário, autocrático, puniu a critica à sua pessoa. Agora, em fim de ciclo JS – e o seu governo – são o peso e a medida, são a referencia. Para nosso mal, e perante tal peso e tal medida não é difícil encontrar melhor. Perante o mau, o medíocre até brilha e parece bom, ou dizendo de outra maneira: em terra de cego, quem tem um olho é rei. É neste contexto que se enquadra Pedro Passos Coelho: ele tem o dito olho na terra de cegos. É muito melhor do que José Sócrates, mas é fraco, é um mau líder, é uma pessoa sem o peso que se acredita que homens(mulheres) de estado devem ter.

O facto de eu votar nele não diz bem dele, diz mal das alternativas. E diz também que eu acredito que só um resultado bastante favorável ao PSD (e não ao CDS) dá a mínima esperança de um governo credível e estável, e que gostava de acreditar que PPC será melhor primeiro-ministro do que é líder do partido. Somos muitos a pensar assim. Não pertencemos às estruturas de nenhum partido, não somos filiados, mas votamos de acordo com o que, no momento, acreditamos ser o melhor para o país. Se PPC não percebe, não vê, não sente este fenómeno então anda mais alheado da realidade do que seria desejável, e esse alheamento não é bom. Muitos votantes do PSD preferiam claramente outro líder: Paulo Rangel, Rui Rio, mas terão que votar neste. E votam, mas o voto não é certificado de cegueira, surdez, placidez acrítica ou estupidez.

Exultaram quando PPC, com mérito, fez um bom debate com José Sócrates, rejubilaram com o primeiro vislumbre de derrota no semblante, gestos, e argumentos do actual primeiro-ministro, mas todos os dias se sentem frustrados com os sucessivos tiros no pé da liderança do PSD, dos quais destaco o caso Fernando Nobre que custará alguns votos que se desviam para o CDS. Ontem, PPC armado em virgem ofendida, como se nós tivéssemos esquecido a contra-campanha orquestrada por ele (seus conselheiros, sua máquina comunicacional, com o apoio de tantos meios de comunicação) contra Manuela Ferreira Leite na anterior campanha eleitoral, queixa-se de José Pacheco Pereira que, segundo Maria João Marques que escreve este post a merecer leitura na íntegra, tem mais neurónios que os conselheiros de PPC todos juntos, como de resto se vê pelos resultados das sondagens depois de seis anos de Sócrates e da sua tão pessoalíssima bancarrota.

É sintomático este desconforto perante a crítica, José Sócrates sempre o teve (caso Manuela Moura Guedes) e Pedro Santana Lopes também (caso Marcelo Rebelo de Sousa). Ambos (MMG e MRS) tinham um espaço de grande audiência e de qualidade (outro valor normalmente desprezado). Também sintomático é o pouco apreço que os portugueses, através da vozes dos seus líderes políticos, dão à liberdade. Liberdade de pensar, de opinar, de escrever com qualidade, liberdade de querer ou não ser deputado. Liberdade de ‘ser’ fora do controle do aparelho partidário. Preferiam pensadores e opinadores formatados pelo partido (pelo menos para efeitos de intervenção pública), que – à maneira de António Costa, por exemplo, se contorcem tantas vezes para defender o indefensável. Disso já gostam. Disso não se queixam. Outro tiro no pé. Resta saber quantos pés sobram até ao dia 5.»
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2 Comments:

At 9:11 da tarde, Blogger estouparaaquivirada disse...

Concordo em absoluto e tenho muita pena que Rio não seja candidato!
Vamos lá ver o que vai acontecer...

 
At 10:23 da manhã, Blogger Pedro Barbosa Pinto disse...

Alguém que dá tanto tiro no pé sem um ai nem um ui, sem mostrar sequer um esgar de desconforto, convenhamos que os deve ter protegidos por cascos!

Como estou com os que acham que a melhor maneira para nos livrarmos dum rato não será com certeza deitando fogo à casa, no próximo dia 5 de Junho, algum impropério me há-de ocorrer para poder ilustrar o meu estado de espírito em relação ao País, no boletim de voto.

Abraço

 

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