sexta-feira, junho 03, 2011

A fraude informativa das nossas televisões



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Hoje tive uma experiência interessante. Tive necessidade de me deslocar de comboio de Cascais para Lisboa (circunstancialmente, o meu carro pernoitou em Algés). Para minha surpresa, cheguei à estação e havia greve dos maquinistas. Das cinco da manhã às nove. Como eram 09:10 achei que a greve estaria terminada. Não estava. O primeiro comboio a sair de Cascais seria às 12:48. Deambulei pela estação, tomei café, li o Destak, o Metro e outros jornais gratuitos da nossa praça e lembrei-me de greves anteriores, durante as quais as nossas televisões, coincidentemente, só pode, esbarram sempre com pessoas que acham as greves muito bem. Que é preciso respeitar os interesses dos trabalhadores, que a greve é um direito constitucional, etc., etc., enfim aquela listagem completa da bondade das greves.

E é aqui que mora a surpresa. Passeei-me pelas centenas de pessoas que iam viajar e não ouvi um único comentário semelhante aos que normalmente se ouve nas televisões. Que os maquinistas deviam era ir todos para o c…, que os f... da p... ganhavam tanto como os pilotos da TAP, que os sindicatos eram uma vergonha, que este país está a saque, se foi para isto que se fez o 25 de Abril e toda uma série de impropérios a enfeitarem a verdadeira angústia daquelas pessoas que aguardavam o transporte. Pensei, assim, como as televisões têm um papel fulcral na passagem de uma imagem falsa e de como elas gostam de se arvorar em espelho de uma ideologia desejável e de uma mentalidade correcta da população. Até entendo as razões desse procedimento, mas não deixa de ser uma atitude condenável e estruturalmente «socialista». E é mentira. O que ouvi foi o que referi acima. Para não falar de um comboio (o primeiro do dia, às 13:00) apinhado com as pessoas com os nervos à flor da pele, repetindo os apupos e com cenas degradantes em cada uma das estações em que o comboio parava (parava em todas), pela simples razão de que não cabia mais ninguém. Em Algés saiu a maioria das pessoas. Muitos dos passageiros batiam com violência nas vidraças das cabines dos maquinistas e insultavam-nos.

Logo à noite, provavelmente, uma reportagem do exterior mostrará uma jovem compostinha dizendo que temos de respeitar os direitos dos trabalhadores.

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