sexta-feira, julho 01, 2011

Sempre os mesmos a pagar, ou sempre os mesmos a votar?



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Os trabalhos da Assembleia da República foram reactivados com a estreia do novo Governo. De salientar o novo estilo notado, tipo «peço desculpa por estar de costas», a atitude cordata de Maria de Belém e a beligerância idiota dos comunistas e «bloquistas», incluindo a sempiterna Heloísa Apolónia com a retórica do costume.

Pelo caminho, o anúncio de um imposto extraordinário de 50% do subsídio de Natal que, mesmo assim, não produziu os efeitos que se poderia esperar. Talvez porque a ideia de que «são sempre os mesmos a pagar» tenha sido substituída, pelo menos parcialmente, por um «são sempre os mesmos a votar». Os portugueses tiveram mais do que tempo suficiente, durante todos estes anos em que vivemos em democracia, para perceberem os resultados da governação (???) socialista que, junto e somado, conduziram sempre à exaustão das nossas finanças, o comprometimento de gerações vindouras (daqueles que ainda não pagam impostos nem votam, como disse Vítor Gaspar) e a imagem, patética, de que o dinheiro dá nas árvores dos jardins de S. Bento, cabendo aos socialistas colhê-lo e distribuí-lo. Acresce que a geração romântica de Mário Soares, após um período de transição do «bonzinho» (*) Guterres, descambou num grupo de aventureiros sem escrúpulos liderados por um inenarrável produto da extracção portuguesa, que dá pelo nome de Sócrates e cujas manigâncias, «trambiques» e uma repulsiva rede de cumplicidades são por demais conhecidas e me escuso, assim de enumerar. Ora, os portugueses tiveram tempo suficiente para perceber tudo isto, poderiam mesmo ter-se interrogado, por exemplo, por que diabo Soares, apesar de toda a retórica socialista, metia o socialismo na gaveta… aparentemente ninguém questionou o paradoxo e toda a gente continuou a votar alegremente num Partido cujas competências se consubstanciavam num «passado de luta», umas prisões em Caxias, Peniche e Tarrafal e na utopia romântica dos anos sessenta , num passado mais recente, e reincidiram em Sócrates, tornado já em espécime sem valor, mas com valor suficiente para alimentar a dinâmica do voto socialista.

Por isso, voltando ao imposto extraordinário, valia mais reflectir sobre as razões que levaram os portugueses a manter no Poder os socialistas do que começarem com a excitação do costume, com a comunicação social à frente, reproduzindo uma entrevista de Passos Coelho, há uns meses atrás, a uma adolescente estudante, a quem dizia que aumentar os impostos seria um disparate.

Ainda sobre reacções, há o registo histriónico de Heloísa no local adequado, tudo bem, mas há, após a sessão, um conjunto de afirmações de Carvalho da Silva que são verdadeiramente criminosas. Há uma ameaça que nem velada é, de trazer a revolta social para a rua por causa da aplicação do imposto (o saque, como lhe chamou Carvalho da Silva) e que, na minha modesta opinião, poderia constituir um caso de polícia. Porque o que Carvalho da Silva afirmou não foi a expressão livre das suas ideias mas um claro aviso de que fará tudo para colocar os profissionais da arruaça no meio da rua. E eu acho que vai sendo tempo de explicar a esta gente que, todos juntos e somados, com as clivagens e tudo, representam sensivelmente menos de 1/5 do eleitorado português. Que naturalmente terá de respeitar os outros 4/5, em vez de vir para a rua partir montras, queimar carros e bater nos polícias.

(*) Bonzinho Guterres. A expressão é do João Gonçalves, mas é tão boa que eu não resisto a plagiar.
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2 Comments:

At 2:03 da tarde, Anonymous Alexandra disse...

A verdade é que se só ficarmos por 50% do subsídio de Natal, em matéria se sacrifícios extraordinários, estaremos muito bem. Como todos teremos de intuir, se não quisermos fazer-nos de “distraídos”, só com o andar da carruagem é que iremos saber, e tão-só, da ponta do iceberg que foi o saque dos últimos anos.
De qualquer dos modos, os discursos dos citados no "post" é só mais do mesmo a que já nos habituaram. Achegas positivas de como solucionar este caos em que nos atolaram seriam pedir-lhes algo para o que não têm nem engenho, nem arte, muito menos vontade. Aliás, só iriam evidenciar uma contradição, se diferentemente se posicionassem. Esperemos que todas as boas intenções já reveladas, por esta equipa, não esbarrem em demasiados escolhos, colocados do lado de dentro, com que se há-de deparar. Não sei porquê, nos últimos dias tenho-me lembrado, amiúdes vezes, daquela série televisiva inglesa “Yes Minister” …

 
At 5:12 da manhã, Blogger Nelson Reprezas disse...

Alexandra

Estou certo que muitas mais exigências aí virão...o actual governo fará bem em não se deixar caír na tentação de se socorrer das barbaridades de Sócrates e sus muychachos para justificar as contraiedades do presente. Mas a memórira é curta e enquanto o homem aprende filosofia (há quem diga que valoriza muito a aitude de Sócrates, que acha bem que ele faça como o grego, que vá para Paris, que estude filosofia e, de preferência, que não se esqueça de tomar a cicuta, tamém) :))))))a tendência será para se responsabilixar mais e mais o actual governo. Aguardemos...

 

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