quarta-feira, novembro 30, 2011

«Vamos agradecer aos idiotas. Não fosse por eles, não teríamos tanto sucesso» (MT : 1835-1910)

[4476]

Nunca fui muito dado a assinalar efemérides por aqui. De resto sempre me habituei ao pormenor e cuidado da Madalena, no tempo em que ela não deixava passar uma!

Mas abri o Google esta manhã e não pude deixar de recordar que Mark Twain foi o primeiro autor que li. Ou melhor… antes, lera «A Cabana do Pai Tomás» da escritora (também americana) Harriet Beecher Stowe, tinha eu os meus oito anitos e o meu extremoso pai achava que nunca era cedo demais para saber dos grandes fenómenos históricos e sociais da humanidade e, sobretudo, entendê-los. Tenho de confessar que li «A Cabana do Pai Tomás» mais ou menos contrariado, uma coisa que eu detestava. Odiava a contrariedade. Mas, habituado à cultura, perseverança e sabedoria do «paizão» eu achava mesmo é que tinha de ler o livro e antes da metade já eu ia gerando uma ideia sobre a escravatura, com o rigor permitido a uma criança de oito anos.

O que eu não disse a meu pai é que tinha descoberto um livro na modesta biblioteca do meu bairro (é… antigamente havia modestas bibliotecas nos bairros das pessoas) e que se chamava «As aventuras de Tom Sawyer». A capa e o título chamaram-me a atenção e daí a passar a visitar a biblioteca todos os dias foi um passo, para cerca de uma hora de leitura, durante a qual me deixava arrebatar pelas aventuras de Tom, Huck e a Becky. O resultado é que levei três vezes mais tempo a acabar «A cabana do Pai Tomás». Ainda por cima o meu pai quase todos os dias me perguntava: «Já leste o livro?» E isso agravava o problema, «sabia-me» àquelas mães que nos obrigam a comer a sopa toda, sem fome.

Pouco a pouco descobri Mark Twain. O grande escritor, pensador e humorista. E retenho na memória um livro, «Os melhores contos americanos», onde Mark Twain me deliciou com o «A célebre rã saltadora do condado de Calaveras». Um conto que nunca mais esqueci e me ajudou a guardar um lugar de respeito e gratidão por este extraordinário autor. O tal que umas almas iluminadas parecem agora querer corrigir, porque acham (muito «acha» esta gente…) que ele era politicamente incorrecto. E ser politicamente incorrecto é coisa que não se faz, nem se enquadra nas boas práticas.
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terça-feira, novembro 29, 2011

Inimputabilidades


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Hoje deu-me uma crise de masoquismo ou então Maquiavel segredou-me qualquer coisa ao ouvido e ouvi o telejornal da 1. Não tardou que uma distinta jornalista desenvolvesse um aturado trabalho sobre o possível internamento do assassino norueguês Anders Breivik, dado que muito provavelmente aquele militante de estrema direita teria sido considerado inimputável.

Não sei bem até que ponto uma criatura inimputável pode ser de direita ou de esquerda mas se a jornalista o diz é porque lá terá as suas razões. Muito dela, mas razões.
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segunda-feira, novembro 28, 2011

Melhor que a onda da Nazaré, só mesmo os patrimónios imateriais



[4474]

Há alturas de arrebatamento total. Foi a onda da Nazaré, depois o fado, agora o
azeite, os grelos e os peixinhos da horta.

Parece que a dieta mediterrânica faz muito bem à pele, à coluna e ao tracto intestinal. Mas convenhamos que este arrebatamento em curso com os patrimónios imateriais me causam já algum desconforto e me abusam da paciência. Até gosto de fado, fado vadio ou de taberna tipo «...e agora minhas senhoras e meus senhores com música do meu marido, letra do gajo que vive comigo e dedicado àquele gajo da mesa do canto vou cantar pra bocelências e porque sou uma pessoa de rima e mesmo uma pessoa de bem, e pelos turistas tenho estima, Ó tempo come back again...»

Mas de favas, azeitonas, broa e secretos de porco preto, há que registar que Portugal em lugar algum é banhado pelo Mediterrâneo e se forem avante com a imaterial iniciativa, que não se esqueçam das sopas de cavalo cansado. Que de imateriais tinham muito pouco mas alimentaram muita criancinha no tempo de Salazar, que ele é que sabia, e se o pão escuro era da dieta, o vinho não tinha menos importância porque dava de comer a um milhão de portugueses.
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sexta-feira, novembro 25, 2011

O bom coração de Otelo



[4473]

"Mas [Otelo] é uma pessoa de coração muito bom, apesar de tudo, que tem de ser considerada como uma pessoa que contribuiu para que nós hoje vivamos todos em liberdade. Eu tenho esse sentimento em relação a ele, e amizade em relação a ele, apesar de de vez em quando dizer assim a sua asneira. E eu digo-lhe a ele também, ele não se importa muito", acrescentou Mário Soares, sem nunca referir declarações recentes do capitão de Abril em que admitia a possibilidade de um golpe militar em Portugal.

Mário Soares perdeu, em definitivo qualquer réstia de respeito que pudesse ainda suscitar nalgumas almas bem intencionadas sobre a sua putativa acção na preservação da liberdade em Portugal. Estas afirmações revelam bem a estirpe deste homem que quanto mais não fosse, deveria guardar um genuíno respeito pelos mortos às mãos das FP 25.

Há um grande equívoco na sociedade portuguesa sobre a noção de valores. Continuar a dar guarida e projecção a um fala-barato vaidoso e sem escrúpulos como Soares é uma atitude que define bem a natureza da comunicação social que temos.
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25 de Abril sempre. Fascismo nunca mais (!!!)



[4472]

Ouvir um grupelho de gente jovem gritando o estribilho titulado, trinta e sete anos depois do 25 de Abril, mete-me impressão, menos pelo que ele representa como ideologia ou convicção do que pelo que ele encerra de um atávico atraso em relação a uma noção adequada da democracia.

É aflitivo perceber como foi possível adulterar o conceito da democracia plena junto de jovens como os que vi ontem na televisão, gente que estuda, gente que ultrapassou já a fase da adolescência e insuspeita de estar a colher benefícios, dando uma nota muito triste de não saberem conviver com a liberdade e dela ter um conceito muito difuso. Mais aflitivo se me afigura ainda que expressar uma opinião como esta que aqui expresso possa ser comodamente classificada como uma posição de extrema direita, reaccionária e passadista. E perante isto, só resta chorar!
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quinta-feira, novembro 24, 2011

Galeria dos horrores










[4471]

As greves gerais são hoje apanágio quase exclusivo de países atrasados ou, se quisermos ser um pouco mais brandos, de países cujos cidadãos eleitores se prestaram durante muitos anos a uma condenável promiscuidade entre os interesses e prebendas daqueles que iam elegendo no tempo das vacas gordas e os seus próprios interesses e regalias. Perdoava-se a venalidade em troca de regalias e direitos que, à medida que iam sendo adquiridos, mais faziam periclitar a frágil economia nacional.

Pelo meio criou-se e alimentou-se um assustador e obsceno número de um tipo de cidadãos a que se deu o nome de sindicalistas que, salvo honrosos excepções, nunca fizeram nada ou produziram o que quer que fosse senão uma acção continuada em nome e prole de partidos com uma muito exígua representação parlamentar (com a excepção da UGT, daí a razão de o seu representante achar que se deve conceder um charuto no Polana, nas horas livres…) e por via de estratégias que consolasse, mimasse e salvaguardasse a grande maioria dos cidadãos empregados para a vida e respectivos benefícios.

Qualquer cidadão medianamente dotado perceberia a tempo que este estado de coisas não poderia durar sempre. Por isso, agora que se pressente o estertor do estado social que um grupo de políticos, patetas uns e espertalhões outros, andou empunhando como bandeira eleitoral, se ergue a vozearia do costume. De um lado as greves que não levam a lado nenhum nem defendem coisa nenhuma para além daqueles que já estão defendidos por lei. Por outro, a galeria dos iluminados habituais que através de manifestos, falam de paradigmas, «desde logos», jogos sujos do capital, novas ordens sociais e articulam frases ou nomes que muitos deles nem saberão exactamente o que significam, como o … como é que é mesmo? ... situacionismo neo-liberal.

Depois, resultam dias como os de hoje. Mais de metade do país não trabalha. Uns porque não querem, outros porque efectivamente não podem. Há ainda os que querem mas que a matilha habitual dos piquetes impede de o fazer. Há também a costumada comunicação social boazinha, cheia de comentadores, «paineleiros» e afins, todos harmonicamente afirmando que a greve é um direito inalienável dos trabalhadores. Alguns deles não sabem bem porquê, nem por alma de quem, mas foi assim que lhes ensinaram e sai bem na televisão. Daqui a pouco tempo há mais. Se ainda houver tempo. Se até lá não nos apercebermos exactamente do fosso para que nos estamos a empurrar a nós próprios. E enquanto empurramos e não empurramos continuamos a pagar àqueles senhores lá em cima (uma brevíssima amostra da multidão de sindicalistas – uma designação tão estimável como activistas ou ex-passageiros do Príncipe Perfeito) muitos milhões de Euros que não temos mas que a troika vai emprestando. Até ver…
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quarta-feira, novembro 23, 2011

Os hieroglifos tinham acordo?



[4470]

Odeio (das tripas) que decidam sobre mim ou sobre a forma como vivo. E viver subentende a sujeição e, igualmente, o desfrute de um acervo de cultura a que todos nós, sem excepção, temos de estar sujeitos. A questão é que há iluminados. Há gente que acha que veio ao mundo para decidir pelos outros e deixar a sua própria marca de água. Mesmo que não tenham água nenhuma ou se trate de água inquinada.

Isto vem a propósito do acordo ortográfico, coisa com que, ao que parece, muito pouca gente se importa ou por que se interessa. Com excepção da Carla Trafaria que todos os dias nos ensina que à luz do novo acordo ortográfico as consoantes mudas são suprimidas da nova grafia lusófona.

Deve ser por isso que ontem, a propósito da primavera árabe que nunca mais deixa de dar flor no Cairo, eu li na RTP uma legenda, segundo a qual a desordem no Egito (Ó Carla, Egito sem «p» aqui no PC dá erro…) continuava. Vai daí lembrei-me como os egiti… egito…egi… xiça, peço à Carla Trafaria que me ensine, à luz do novo acordo ortográfico. Ou devo escrever que os egípcios, com «p», porque se lê, são os habitantes do Egito sem «p» porque não se lê?

Muitas vezes penso se andamos à mercê de gente pateta, ou distraída. Neste caso pode ser mesmo distracção (distração?). À luz da minha maneira de ver e desde logo, deve ser esse o paradigma.
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Sentámo-nos, conversámos e tal e achámos...

[4469]

«…encontrámo-nos, começámos a conversar e tal e achámos que há um mal-estar generalizado entre os portugueses…»

Quando Soares se senta, encontra e começa a conversar com alguém, farta-se de achar coisas. Agora achou uma coisa que ainda ninguém tinha dado por ela – a de que há um mal-estar entre os portugueses. Por isso ele acha (lá está ele a achar outra vez) que temos que nos indignar de novo. Que não temos que ter medo da rua árabe e tal (para usar o tal que Soares usou quando conversou e tal já nem sei com quem…) mas, pelo contrário, apela a uma participação cívica e política dos cidadãos. De caminho, Soares acha que aquilo da privatização da RTP não vai dar nada e aquilo acaba por ser passado a um estrangeiro ao peço da chuva. E pergunta: Vamos passar aquilo a um estrangeiro qualquer?

Soares enriqueceu ainda o meu léxico por causa do crescentíssimo desemprego. E eu acho (já agora, deixa-me cá achar qualquer coisa, mesmo não me tendo encontrado com ninguém e conversado e tal) que não há paciência que chegue para o narcisismo e vacuidade deste homem, que continua a achar que os grandes problemas nacionais continuam a ser resolvidos quando se encontra com alguém, toma uma bica e conversa e tal. Para não entrar em pormenores que trariam, por arrasto, mil razões para nos indignarmos, como ele gosta que os portugueses se indignem, com ele próprio.
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segunda-feira, novembro 21, 2011

O que faz correr esta rapaziada? Ou «Já vai tarde (take two)»



[4468]

Era de esperar. A derrota de Zapatero, o pior primeiro-ministro espanhol desde a invenção dos caramelos de Badajoz, foi tratada pela generalidade da comunicação social com a dinâmica habitual concedida ao socialismo e aos socialistas, mesmo àqueles em fim de carreira, depois de conduzirem os seus respectivos países a uma condição de quase indigência. Por isso, a derrota do homem foi atribuída ao desgaste e, adivinhemos, à crise internacional. Não fosse o desgaste e a crise e outro galo cantaria. No fundo com o nosso Sócrates foi a mesma coisa. Apenas apimentada com a irresponsabilidade da Oposição que resolveu derrubar o governo só porque queria ir ao pote.

Não há remissão possível para esta rapaziada da pena e do microfone. Eles acreditam mesmo…
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Biscoitos secos?



[4467]

Não tenho tomado notas mas é impossível não reparar numa corrente de opinião que se vai generalizando, segundo a qual a quebra do segredo de justiça relativamente às buscas a Duarte Lima foi objectivamente gizada pela actual ministra da justiça contra o Procurador Geral Pinto Monteiro porque, ao que parece, pelo menos aos jornalistas, ela não gosta dele.

Num país onde se começa a discutir às claras os gostos de cada qual, como Marinho Pinto ainda há dias ilustrou quando disse que a ministra da justiça não gostava dele mas não fazia mal porque ele também não gostava dela, parece-me que o melhor é os portugueses arranjarem um parlatório (público-privado, bem entendido, dado o interesse público da coisa e o necessário investimento privado) onde esta rapaziada pudesse pôr em dia os gostos e os desgostos de cada um. De preferência com cama e águas correntes, para qualquer eventualidade.
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Perguntas inteligentes



[4466]

Ontem Duarte Lima fazia anos. O filho foi visitá-lo à prisão. Calado e com passo firme não respondeu a qualquer pergunta dos diligentes jornalistas.

Interrogo-me sobre que resposta eu daria se eu estivesse nas condições dele e se um jornalista me perguntasse:

- Alguma vez pensou em vir visitar o seu pai à prisão?
- Como é que se sentirá o seu pai por passar o aniversário na prisão?

Não sei bem o que eu responderia. Provavelmente arranjaria forma de ir para à prisão também – por palavras e obras. Daí que eu ache que o mutismo do jovem (ele próprio arguido) terá sido a melhor opção.
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Menos um. E já vai tarde...



[4465]

De vez em quando sopra uma brisa salvífica e regeneradora e o ar europeu torna-se mais respirável. Boa viagem Zapatero.

Em Paris há uns cursos de Filosofia em conta. Se precisares de uma carta de recomendação, já por lá anda um «gajo porreiro» a quem, como tu, o dinheiro se acabou. O dinheiro dos outros, bem entendido, porque do dele, segundo dizem as más-línguas, sobraram-lhe uns trocos.
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sexta-feira, novembro 18, 2011

Pera aí…



[4464]

"Antigo jogador compreende situação complicada das pessoas que estão obrigadas a fazer “enormes sacrifícios” .

Mas não foi o Figo que me custou €0,07 (a mim e a mais 9.999.999 portugueses) para vir a Lisboa tomar um pequeno-almoço com o Sócrates e dizer que ele era porreiro pá para as eleições que se avizinhavam? Figo ensandeceu? Ou a sueca pô-lo de castigo enquanto ele não arranjar outro pequeno-almoço qualquer?
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As angústias de um socialista, preocupado com os decotes das actuais ministras



[4463]

O Luís Novaes Tito anda preocupado com os decotes das ministras do actual governo e quer saber se há ou não vantagens em se mamar fruta em vez de leite. Depende da fruta, Luís, diria eu. Olhe que nestas coisas de frutas mamáveis e decotes estimáveis, os seus correlegionários não gostam de deixar os seus (deles) créditos por mãos alheias... basta atentar na foto acima, da socialista Sofia Cabral. E convenhamos que os seus (dela) argumentos são de peso, para que uma pessoa passe não só a preferir mamar fruta em vez de leite como poderá, facilmente, mamar pela vida fora. Pelo menos até lhe retirarem o biberão.
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Tédio



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O Público, jornal que cada vez mais me parece um órgão oficioso do Bloco de Esquerda, mas isto digo eu que tenho azia se não tomar os remédios, deu mais antena a Mário Soares, como é de bom-tom a um jornal de referência, entendendo-se por referência, por exemplo, dar antena aos Soares do nosso descontentamento e perfilando-os como os veneráveis vultos da nossa inevitável (mais tarde ou mais cedo) ascensão à elite dos povos iluminados. E é assim que fui lendo que Soares acha que:

- Merkel é responsável pela decadência da Europa, parece que por vir da Alemanha do Leste e de um país que já provocou duas guerras (não a mandou coser meias para casa, como costuma, mas faltou pouco);
- Merkel é uma senhora muito atrevida e que teve o topete de chamar preguiçosos aos gregos, logo eles, nascidos e criados no berço da nossa civilização;
- Isto, para a Europa entrar nos eixos tinha de passar por ser o BCE a emitir moeda. O dinheiro circulava por aí e não havia problema nenhum. Confesso que não percebi bem o alcance desta tirada de Soares, presumo que, à boa maneira socialista, quando o dinheiro faltasse mandava-se imprimir umas notas e já ninguém devia nada a ninguém.

Soares desfia um chorrilho, avançado numa Oração de Sapiência no Instituto Politécnico de Leiria. Lá mais para o fim, ele acha que a Europa tem de meter as agências de rating na ordem e acabar com a ladroagem dos países fiscais.

Soares dixit. Uma vez mais não disse nada para além do jargão habitual. Coisa inócua, não fosse constituir um indicador desmoralizante da forma e da substância com que continuamos a fazer política e a fazer comunicação social cá pela paróquia. Para além do sinal inequívoco da nossa pobreza intelectual. Seria tão bom que a Europa seguisse os conselhos de Soares e metesse, sim, alguma coisa na ordem. Podia era, em vez das agência de rating, meter o próprio Soares. Poupava-nos a estes dislates. Para além de que isso poderia constituir igualmente uma estimável medida de higiene.
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quinta-feira, novembro 17, 2011

As boas rotinas




[4461]

São onze horas da manhã e só agora me meti ao caminho de Lisboa. Pela marginal, como é meu hábito. O dia está magnífico nos seus insólitos e aconchegantes vinte graus e os meus olhos banham-se numa luminosidade que nos põe de bem com o mundo e nos traz a lembrança de um rosto de mulher sorrindo. O azul do mar parece uma aguarela viva, saltada da paleta divina de alguém mais poeta que pintor, com a sensibilidade dos homens e a inspiração dos deuses.

Deixo a viatura percorrer preguiçosamente o asfalto confortavelmente aliviado do trânsito, pelo adiantado da hora, e arrisco uma nesga de vidro aberto, por onde me entra uma lufada de ar puro que me enche o habitáculo do aroma de pinheiros bordejando a estrada, logo após a passagem de um recanto intimista que todos os anos, na mesma época, se cobre de malmequeres muito brancos e muito densos, formando um quadro de cenário e significado únicos.

Liberto também as rédeas do pensamento e comprazo-me com o desfile de memórias que este trajecto já me concedeu, algumas delas bem vivas e recentes. E concluo que nem sempre temos razão quando nos deixamos abater pelo azedo das rotinas diárias ou pelas incertezas do futuro. O presente muitas vezes nos oferece momentos gratificantes como o desta manhã e as próprias rotinas frequentemente se revestem de cores e significados de transcendência estimável para o conforto do corpo e para o aconchego da alma. E nem o tilintar do telefone anunciando, quem sabe, uma mensagem inesperada, um objecto perdido e reencontrado, quebra a magia do momento.
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quarta-feira, novembro 16, 2011

Guardas prisionais a mais, médicos de família a menos, especialistas a mais...






[4460]

Crítica, Paula Teixeira da Cruz não deixou porém de notar que o custo de horas extraordinárias feitas pelos guardas prisionais atinge os 12 milhões de euros. “Os senhores guardas prisionais trabalham por escalas, mas depois, se formos ver ao orçamento, o custo das horas extraordinárias é de 12 milhões de euros (...) O que há neste momento são duas escalas e enquanto alguns guardas descansam estão a receber horas extraordinárias”, disse.

Infelizmente, esta será uma de muitas situações em que os portugueses são especialistas. Nada contra os guardas prisionais, portanto. É uma cultura instalada, uma mentalidade quiçá moldada na dieta mediterrânica, seja lá o que for, mas só os ingénuos não acreditarão que esta é a forma de nos irmos safando. E por este status vamos lutando, não fosse ele um conjunto de direitos adquiridos. Para o que contamos com os diligentes sindicatos, cujos diligentes (e sempiternos) líderes vão conduzindo de forma cordata e adequada.

Tenho vindo a gostar da actual ministra da Justiça. Apesar do bastonário dos advogados achar que ela tem cunhados que não devia ter e de dar trabalho aos amigos desses cunhados, Paula já disse que é tudo mentira mas num país em que em qualquer contenda há sempre um que mente (quando não os dois), as gentes vão ficando imunes a este tipo de comadrices.

Já agora e a talhe de foice, adorei ver ontem o ministro da saúde corrigir um dirigente do BE que apontava um défice de mil médicos de família e de seiscentos médicos especialistas, dizendo-lhe que, em contrapartida, havia em Portugal mil médicos especialistas a mais. O deputado engasgou-se (ele próprio, segundo julgo, médico…) e balbuciou umas tretas do tipo «o sr. ministro anda mal informado». Ficarei à espera de saber se há especialistas a mais ou a menos.
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segunda-feira, novembro 14, 2011

O relativismo pindérico de quem não gosta mesmo do PSD





[4459]

Sempre fui alérgico ao tom e ao estilo do Bastonário da Ordem dos Advogados, Marinho Pinto. Se é verdade que não posso ajuizar correctamente muitas das questões que ele levanta, por evidente carência técnica, já a sua arrogância e clara parcialidade na perspectiva que cria entre este governo e o de Sócrates me causam verdadeira repugnância. É muita clara a forma como Marinho Pinto se revela, à medida que vai zurzindo neste governo em geral e na ministra da justiça em particular. Tão clara quanto a sua má educação e conduta trauliteira quando desancou Manuela Moura Guedes na TVI para defender Sócrates. Um homem que Marinho Pinto não tem pudor em defender mesmo no que Sócrates terá de indefensável.

Ainda hoje, na TSF (estação que, de resto, verdadeiramente lhe concedeu duas horas de tempo de antena…), foi flagrante a forma pretensamente habilidosa mas que acabou por sair tosca, mal ajeitada, com que Marinho Pinto colocou Sócrates num pedestal, como sendo o homem que quis moralizar os juízes, uns malandros que têm três meses de férias e para quem os prazos são uma mera figura de retórica, mas que foi trucidado pela corporação. E assim se cria a imagem de um Sócrates impoluto, mas incapaz de derrubar a coriácea parede do corporativismo dos magistrados.

Foi uma demonstração pífia de Marinho Pinto, mas nem por isso menos desonesta na abordagem do problema e na lavagem da figura de um primeiro-ministro de triste memória e de muito escassa vergonha.



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12 de Novembro de 2011



[4458]

Um dia para eu guardar nos mais intimistas meandros do meu registo de memória. Casou-se a filha caçula e foi uma festa inesquecível.
Boa viagem, filhota!
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sábado, novembro 12, 2011

Mudem lá o mundo, mas a passo, não. A trote, talvez…



[4457]

Esta manhã fui ensaiar os últimos passos para entregar a minha filha a um rapaz compostinho, bem apessoado e que passou no exame (dela…). Sabendo de antemão que a pessoa que me precede nas bichas de multibanco tem sempre um milhão de contas para pagar, transferências a fazer e saldos para pedir ou que a rua normalmente deserta se enche de carros sempre que assomo ao entroncamento para nela entrar, eu deveria saber que alguma coisa teria de acontecer quando, cinco minutos antes da hora marcada apontei o carro ao Coconuts/Design Hotel. Polícias de colete amarelo empunhando walkie-talkies, viaturas da polícia municipal, motos, motoretas e segways, tudo muito moderno, eficaz, correcto e tecnológico, barraram-me a passagem numa das mais movimentada artérias de Cascais (sim, essa, da Boca do Inferno abaixo, Casa Villa itália, Design hotel, palácio, centro cultural… essa mesmo) e eu, obediente e carregado de espírito de cidadania parei o carro. Como cinco minutos depois nada tinha acontecido e atrás de mim a bicha de carros atingia já mais de uma vintena arrisquei uma pergunta à agente da autoridade (muito loura, muito rabo de cavalo, muito segway) o que se passava. «Uma manifestação desportiva» , diz-me ela. Saí do carro, resignado na ideia de ver um pelotão de ciclistas esforçados, um grupo de maratonistas compenetrados… mas não, eis que deparo com cerca de duas centenas de pessoas a passo, com uma t-shirt cinzenta e, a letras brancas, uma frase que me elucidava que «… a passo vamos mudar o mundo…». Contive o impulso para lhes dizer que podiam ir mudar o mundo para o Burundi, Sudão do Sul ou cintura de cobre do Katanga ou, numa versão com melhor clima e boas vistas, para a Serra de Sintra. Pelo menos que andassem um pouco mais depressa… mas a t-shirt era bem explícita, Eles queriam mudar o mundo, a passo.

Esperei uma boa meia hora. Fiz dez telefonemas para aquele que será meu genro de papel passado esta tarde e expliquei-lhe que havia ali gente a mudar o mundo e que a polícia não me deixava passar. Ele entendeu, coitado. Ele, para quem, a partir das quatro da tarde, o mundo estará bem mudado…

Já em casa, fui ver quem eram os putativos mudadores do mundo. Alguém que aderiu à Aju, uma instituição cascaense que, aparentemente, terá méritos consideráveis. Mas esta cena de se movimentar um enorme corpo policial, respectivas viaturas, motos, segways e motoretas avulso, atrasar e complicar a vida às pessoas para que um grupo de patuscos bem intencionados resolva ir passear a pé para o meio de uma movimentada artéria de Cascais era bem escusada. Bem que podiam começar a mudar o mundo por aqui. Com mais respeito por quem está. A passo, pois claro.
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Quando os patetas se sucedem aos idiotas


[4456]

Otelo disse o que disse. O suficiente para que há bem pouco tempo atrás, fosse detido pela instituição militar e se submetesse a um auto de averiguações e respectivas consequências. Pinto Monteiro reagiu com a vacuidade do costume, ao mesmo tempo que nos passou um insulto colectivo vestido da pedagogia devida ao povo ignaro. Qualquer coisa como «…Otelo será objecto de um inquérito se o seu apelo à revolução tiver consequências práticas…». Ou seja, de acordo com o português que aprendi na quarta classe (é… aqui há uns cinquenta anos a miudagem já sabia ler e, surpreendentemente, interpretar, com resumos, redacções e assim…), o procurador diz que se desatarmos todos aos tiros e o Otelo e mais oitocentos começarem para aí a atacar quartéis, a Procuradoria, pressurosa e muito atenta abrirá um inquérito. E Otelo será ouvido, acusado, arguido e, quem sabe, julgado. Isto se o caso não prescrever ou não se destruir por aí umas quaisquer escutas o que, a não acontecer, provocará graves deficiências processuais.
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sexta-feira, novembro 11, 2011

Cada um tem o General Alcazar que merece






















[4455]

De quando em vez tratamos, com sucesso, de recordar ao mundo civilizado que mantemos bem acesa a centelha do povo atrasado que fazemos questão em ser. Mais, não chegasse esse atraso, temos de lhe juntar uma embaraçosa porção de complexos, problemas mal resolvidos de pequeninos e, até, racismo em estado puro.

Os disparates de um pateta perigoso como Otelo, um indivíduo aventureiro e de personalidade martelada entre várias acções que em qualquer país do mundo o manteria atrás das grades, voltaram à ribalta, para gáudio de uns quantos agentes de comunicação social, muitos deles quiçá não fazendo ideia do que este homem fez (e quis fazer) aos portugueses que não comungavam do estranho conceito que ele tinha (tem) de liberdade, na altura em que prendeu gente só porque acordava mal disposto, mandou matar gente porque sim e se lembrava de meter o pessoal no Campo Pequeno só porque também. Ele agora quer um golpe de Estado. Deve até ter estudado a situação, pois acha que oitocentos homens chegariam. Há menos quartéis, os portugueses andam mais distraídos e tudo seria mais fácil.

Que continuemos a manter no nosso seio uns quantos Generais Alcazar ou Tapioca, reminiscências de um passado que mesmo já na América latina já não se usa (salvo para os mostrarmos como atracção turística) apesar dos esforços de um ou outro Chávez e Evo Morales, ainda se tolera. Desde que se mantenham quietos e não chateiem o pessoal. Dêem-lhes uma roca, um apito ou um assobio. Sobretudo se ilibados/perdoados por crimes de sangue por razões que, pela parte que me toca, nunca cheguei a entender, mas que Mário Soares deve saber muito bem. Mas que os deixem vir a terreiro dizer barbaridades como estas, é que não. Prendam-nos, exilem-nos, usem mesmo do seu próprio conceito de justiça e dêem-lhes uma carga de porrada, mas que não se permita que esta gentalha continue a chatear.

Nota: No meu tempo havia uma coisa chamada RDM, passava por ser um Regulamento de Disciplina Militar. Por bem menos do que o que Otelo disse, se era detido e, de imediato, se nomeava um oficial de justiça para um auto de averiguações. Hoje, dá a ideia que parece mal. Salvo se for um elemento da extrema-direita, esse, sim, deverá ser exprobrado, preso e, preferencialmente, enforcado ou feito em fricassé aos bocadinhos em lume brando. Otelo, é que não.
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quarta-feira, novembro 09, 2011

Robalos e pão-de-ló

[4454]

Eu sei. Eu sei que um pessoa só é culpada depois de julgada e condenada e recursos esgotados. Eu sei. Mas ver um friso de arguidos sorridentes, com ar de quem saiu do chuveiro e se vestiu de lavado, com a confiança de quem sente e sabe que isto da justiça não é bem para eles e com a expressão desdenhosa com que Vara, só para usar um exemplo, responde à jornalista (ou melhor, não responde, pergunta… tipo, «porque é que me faz perguntas dessas?») enquanto paira uma atmosfera de pressentida impunidade, quanto mais não seja porque o presidente do Supremo mandou destruir umas conversas telefónicas entre eles e o inenarrável (Sócrates, esse mesmo de triste figura e má memória) e que sem essas gravações todo o processo corre o risco de ir pelo esgoto, ver este friso de gente nestes preparos, dizia eu, causa-me uma irreprimível repugnância e um estranho impulso para andar ao estalo. Eu, um pacífico militante com paciência de Job.

Desta reportagem ressalta ainda um naco esplendoroso de «delicatessen» consubstanciadas em robalos (Godinho não pode comer enchidos…), enchidos e pão-de-ló e ainda um enternecedor carinho pelo clube da terra, a avaliar por uma oferta de um equipamento de um equipamento da equipa de Esmoriz. Canetas Mont Blanc, relógios e envelopes com notas gordas de Euros é que nada. Tudo boatos da reacção. Também há por ali alguém com vontade que Sócrates desse uma sticada numa gaja mas isso configura, certamente, um exagero da comunicação social, sempre sedenta de sangue e sensacionalismo.

Ora aqui está uma peça que nos faz pensar que aquele secretário de Estado que acha que a juventude devia deixar a zona de conforto e emigrar é que está carregado de razão.
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Eu não disse? (2)


Dina Livro, Distribuidora Nacional do Livro, Lda (clicar)



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Um tributo justo, e gostoso, aqui no Espumadamente. Acima do Sabor de Maboque, o Último Segredo de José Rodrigues dos Santos.*
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terça-feira, novembro 08, 2011

A náusea

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Não estou bem por dentro das razões da greve de hoje sobre os transportes públicos. Mas do que me foi dado perceber, o que se passa é o seguinte:

- Os trabalhadores não aceitam ver beliscados os «direitos adquiridos»;

- Para não lhes mexerem nos direitos que adquiriram, a administração não tem nada que estar a inventar reduções de horários, de horas extraordinárias e outras malfeitorias que reduzam o seu rendimento mensal;

- Há uma vaga ideia de que os comboios, autocarros, metro e similares dão prejuízos (parece que os prejuízos se cifram agora em €1.300.000.000,00, falando apenas do Metro de Lisboa, já que a dívida gobal das empresas de transportes parece ascender a €16.000.000.000,00, e os encargos anuais só em juros ascendem a €600.000.000,00, mas o problema não é deles - dos trabalhadores). Logo, a administração que se vire e lhes pague os salários que, como é do conhecimento geral, é de um nível bastante generoso. O que se entende, dados o stress, responsabilidade e vários factores de risco que envolvem um motorista de autocarros, de metro ou de comboio. Ou seja, se não houver dinheiro, o estado que o invente (ir aos bolsos do contribuinte digo eu)

- Atribuir a responsabilidade das greves aos comunistas é uma falácia. Esta gente (os grevistas) é tão comunista como eu. São mais do género viva a esquerda, abaixo os poderosos, os banqueiros e o Berlusconi mas que Deus os mantenha no poder por muito tempo para que os salários não baixem);

Confesso que este tipo de situações já me provoca náuseas. Esta gente não tem o menor respeito pelos cidadãos nem pelos prejuízos que lhes causa. Os cidadãos, por sua vez, muitos deles, também lhes acha muita graça e sentem-se solidários com a justa luta dos trabalhadores (ainda agora um «utente» do Porto disse a uma TV, em tom monocórdico, que a greve dá muitos prejuízos aos cidadãos mas que compreende a luta dos trabalhadores. A este cidadão só lhe faltou mesmo o arnês e fazer «muuuuuu»…). E os que não acham dizem f…-se entre dentes e sujeitam-se bovinamente às consequências da situação.

Pela minha parte, que até tenho carro, revolta-me que cada vez mais me venham ao bolso para pagar os direitos adquiridos pelos outros. Que a mim ninguém mos paga e se os meus patrões não tiverem dinheiro que chegue, reduzem salários e despedem pessoas. Não vão eles depois não ter dinheiro suficiente para pagar ao Estado os impostos necessários para cobrir os direitos adquiridos pelos trabalhadores dos transportes.
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segunda-feira, novembro 07, 2011

Antes de comprar um fato, convém verificar o peso

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Fui comprar um fato. Deixar de fumar acarreta uma série de efeitos colaterais, um deles sendo que pouco tempo depois de pararmos com o cigarro queremos entrar nos fatos e não cabemos lá dentro. Quer-se dizer… cabemos, mas ficamos com uma sensação estranha, assim tipo alheira de Mirandela bem atadinha nas pontas.

Concluindo que nem os fatos alargam nem eu encolho e, muito menos, tenciono voltar a fumar; considerando ainda que há uma filha que casa este Sábado e é mau aspecto eu levar um conjunto de calça e paletó (hoje por hoje, a única coisa parecida com um fato onde caibo), decidi ir comprar um fato.

Long story short, vi um e gostei. Pedi ao empregado que me trouxesse o meu número… reparei numa expressão entre o irónico e o paciente no empregado, mas contive-me. O homem veio com um fato e diz, com cortesia, que o número que eu pedira devia ser do meu irmão mais novo. E que ele teria tido a iniciativa de trazer dois números acima.

Fui experimentar o fato ao gabinete. Vesti o casaco… estava bom a abotoar mas parecia-me largo nos ombros. Pedi um número abaixo, estava bom nos ombros mas, para abotoar, era necessário assim, com dizer sem ferir a minha própria susceptibilidade… eu tinha de dar um passo em frente. Perguntei ao empregado se não haveria um número a meio… entre os dois. Que não. Ou levava o casaco com nos ombros e apertado no estômago ou levava o casaco bom na barriga e «largueirão» nos ombros. Para dispersar um pouco a indecisão, vesti as calças. Estavam boas em geral, mas apertadas (íssimas) na cintura. As outras estavam boas na cintura mas «largueironas» nas pernas, tipo calças do meu irmão mais velho. Dei uma de «xico-esperto» e perguntei se podia levar o casaco de um número e as calças de outro… que não, disse o empregado solícito. Tinha de ser o conjunto tal como estava.

O fim da história salda-se por um milagre de alfaiate, pelo qual me acertaram mangas, chumaços, debruados (no casaco), bainhas, cós (?????) e fundilhos nas calças. Consegui salvar o casamento da minha filha (em risco evidente de passar por ser o casamento daquela fulana cujo pai apareceu de casaco azul e calças de caqui) e saí da loja com um recibo que me permitirá ir buscar o fato na próxima quinta-feira. Simultaneamente, afivelei uma expressão tipo «mal-parido», «mal enjorcado», cheio de defeitos de fabrico até que alguém que me acompanhava me disse que não, estava tudo bem. Eu precisava de andar a pé todos os dias durante uma hora, deixar de comer batatas, arroz e massas, carnes vermelhas e beber muita água. Deveria, igualmente, sujeitar-me a um conjunto de exercícios que, para usar uma expressão muito em uso corrente, eu denominaria de «boas práticas».

Esperemos que na quinta-feira o fato me assente bem. Ou então, minha filha, outro alguém te levará pelo braço ao teu bem amado. A não ser que queiras que a má-língua da paróquia diga que tens um pai mal acabado!
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Back in business



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Sporting 3 U. de Leiria 1.
1 pontito to go...
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sábado, novembro 05, 2011

O fim do capitalismo (disse a Zon)

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Sempre me irritou gente que execra os milhões para fazer uns milhões. Oliver Stone é um exemplo claro deste tipo de gente, sem embargo do brilho do seu talento para realizar filmes admiráveis. Mas Stone explorou à exaustão temas, figuras e sentimentos que no seu conjunto estariam sempre condenados a meter-lhe no bolso uns milhões. O capitalismo desenfreado, o antiamericanismo, a emulação de figuras controversas, mas populares, como Castro ou, mais recentemente, Chávez e Lula, o Vietname, a violência como apanágio e imagem de marca dos americanos, o patriotismo, que ele sempre apontou como um dos piores males da humanidade «…Nationalism and patriotism are the two most evil forces that I know of in this century or in any century and cause more wars and more death and more destruction to the soul and to human life than anything else…» constituíram matéria soberana das suas preferências e é assim que Stone retorna a Wall Street e a Genko para nos oferecer mais uma história de millions, billions e trillions (expressões a que os tradutores de Wall Street – o dinheiro nunca dorme deram tratos de polé), traição, falta de escrúpulos, uma história, enfim, em que o capitalismo foi uma vez mais demonizado, mau grado os milhões que engordaram o saldo bancário de Stone. O povo gosta disto. De achar que o capitalismo é o mal que justifica a caramunha pela fatalidade em que todos vivemos, vergados ao capital.

Stone não perdoa e, de novo, maneja as ferramentas, mas desta vez sai-lhe uma obra burilada, confusa (palavreado que ninguém entende mas que associa facilmente ao capitalismo, aos trillions e à ausência de escrúpulos dos stockbrokers, situações emaranhadas e sem um fundo credível, mesmo que alicerçadas no bolha americana provocada pelos tais produtos tóxicos. A referência a instituições e bancos cujos nomes são do conhecimento comum dos espectadores ajuda à festa e tudo se conjuga para que a meio de filme já não se perceba bem quais os verdadeiros problemas daqueles poderosos todos, mas isso não interessa nada, percebe-se que está tudo em apuros e que a culpa é do capital. Mas Stone cai, ele próprio, numa esparrela infantil. No fim, depois de uma série de situações confusas e a roçar uma vulgar história de intriga política e económica, eis que há um happy-end à moda antiga. Os maus regeneram-se, os casais desavindos apaixonam-se outra vez, os pais reconciliam-se com os filhos, a filha do vilão acaba por ter a criança, o genro fica com cem milhões de dólares que o sogro (Genko), arrependido, lhe deposita na conta para ele poder prosseguir com as suas malfeitorias operações financeiras e vai tudo fazer um barbecue.

Stone não reparou que só capitalismo poderia fazer com que Genko decuplicasse os cem milhões de dólares que roubara à filha (dinheiro guardado para o nobre propósito de pagar as propinas na universidade) nuns escassos meses. Mas tudo está bem quando acaba em bem. Ricos, contentes, felizes, cheios de espírito de família, tudo aos beijinhos e a comer umas asas de frango e um comovente bolo do primeiro aniversário da criancinha gerada na maior confusão mas salva pelo gong, leia-se um rebate de consciência do avô que uns meses antes tinha roubado à filha cem milhões mas que conseguiu reproduzir para lhos devolver e ficar com uns trocos para ele, para os Cohibas e para os fatos de alfaiate. Capitalismo puro.

Vi o filme ontem, o ano passado não tive oportunidade de o ver. Retenho ainda a voz grave de um apresentador da Zon anunciando o filme e dizendo: «A Telecine, continuando a apresentar uma série de filmes que registam o fim do capitalismo (SIC, juro…), passa agora o Wall Street – o dinheiro nunca dorme (o título do filme é pronunciado em mode solene e prenunciando os amanhãs que brevemente vão começar a cantar por aí). Será que é mesmo necessário sermos assim tão imbecis?
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sexta-feira, novembro 04, 2011

Uma visão romântica da soberania





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Eu sei que é difícil, mas Pacheco Pereira ontem esforçou-se imenso por conseguir mesmo a quadratura do círculo. Discorreu longamente sobre o que considero uma visão romântica da liberdade, soberania e qualidade democrática dos diferentes países da União Europeia. Eu sei que a simples referência a uma visão romântica da democracia pode acomodar uma basta argumentação sobre o tema, podendo mesmo desembocar numa alma mais iluminada acabando a chamar-me «fassista». Mas a verdade é que não me ocorre outro termo que não seja mesmo o de uma visão romântica da democracia, liberdade e soberania. Pois se os países que aderiram à União Europeia o fizeram de livre vontade e em consciência plena, tinham a obrigação de saber da absoluta necessidade de flexibilizar a sua soberania a favor dos interesses da colectividade europeia, no quadro de uma inevitável abrangência política, económica, social e até cultural.

Se havia divergências hoje consideradas brutais no entendimento das políticas de cada qual, elas deveriam ter sido equacionadas bem antes de os países terem aderido à comunidade e não agora, como a Grécia, um de alguns países europeus mais ou menos estilhaçados pela irresponsabilidade dos socialistas, que se entretém a jogar à política como quem joga aos cinco cantinhos, dando provas de uma grande irresponsabilidade e desrespeito pelos seus parceiros da União.

Que os iluminados do costume usem a Grécia como florete para esgrimirem as suas utopias ainda entendo. Que uma personalidade com a arqueação e gabarito intelectual de Pacheco Pereira insista na argumentação pura e, insisto, romântica, que ontem usou na «Quadratura do Círculo» é que já se estranha um pouco. Por tão clara ser a situação.
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Que pena!





[4447]

Dou de barato que o jornal Público não é público. É privado. Assim sendo admite e despede quem quiser. Dito isto, resta lamentar que a Helena Matos tenha sido descartada. Porque escrevia bem, tinha as ideias arrumadas, era de uma lógica e de uma seriedade incontornáveis e a sua irreverência tinha a marca das pessoas educadas, sem necessidade da truculência, pedantismo e arrogância em uso corrente nesta paróquia. A Helena tinha ainda tatuado o culto da liberdade plena e do respeito pelo próximo. Um elevado sentido de cidadania, afinal.

Várias vezes a citei no meu blogue e lembro-me que titulei muitos dos posts dela que transcrevi com «É por isso que eu gosto desta mulher» .

Acabou-se. A Helena Matos foi arrumada. Encostada à box. Descartada. Uma atitude puramente jacobina por parte do Público. O primado da ideologia abstracta sobre a vivência pragmática concreta das sociedades. Robespierre não faria melhor.
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quinta-feira, novembro 03, 2011

Eu não disse?





[4446]

A Dulce andou numa roda-viva, apresentando o seu Sabor de Maboque, hoje por hoje um fenómeno de popularidade. Sempre achei que a simplicidade, fluidez e ternura da narrativa da Dulce e a fuga, mesmo que subconsciente, ao estereótipo que, geralmente, enforma a descrição dos tempos difíceis da descolonização contribuiriam decisivamente para o êxito da autora e da sua cria (a).

Do que foram os inúmeros momentos da promoção do livro e o reencontro com amigos da época há um registo muito elaborado e competente na página Sabor de Maboque – Magia Africana. Aí se poderá encontrar abundante informação sobre os eventos, as entrevistas, os programas de TV, fotos e comentários. Por isso me dispenso de o referir, assinalando apenas o tremendo e saboroso sucesso da Dulce, culminado com a informação de que no final da passada semana o Sabor de Maboque foi o número um das vendas da editora DinaLivro, a nível nacional.

Parabéns Dulce.

(a) Como a Dulce normalmente se refere ao Sabor de Maboque




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quarta-feira, novembro 02, 2011

Mais do mesmo




[4445]

A demagogia desta rapaziada socialista não tem limites. Lula da Silva, entre a histeria feita de gritos e mãos levantadas, inaugura neste vídeo uma Unidade de Saúde. Tão boa, tão bem estruturada que até lhe apetece ficar doente para ser admitido nela (atenção logo ao início do vídeo).

Lula adoeceu entretanto e está a ser tratado num dos mais reputados hospitais privados de S. Paulo.

Que Lula se restabeleça rapidamente. Mas, já agora, que alguém lhe recorde esta retórica em que os socialistas se galvanizam imenso e parecem eles próprios acreditar no que dizem. E lhe fizesse notar que, a fazer fé nesta notícia, ele necessitaria de pelo menos dois meses até ser atendido e mais cerca de quinze a dezoito meses até chegar ao especialista, caso tivesse optado pelo seu emulado SUS, medicina do primeiro mundo, segundo o próprio. Pelo menos até adoecerem e decidirem tratar-se no abominável sector privado.



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Torcer a orelha e não deitar sangue



[4444]

O referendo anunciado para a Grécia não pode ser lançado no caldeirão onde se pretende cozinhar o capitalismo, o sistema, os políticos corruptos e a necessidade do nascimento do homem novo. Seria necessário e útil que os gregos entendessem que a situação se deve a um sistema bem menos obnóxio do que o desejável. Qual seja o de providenciar um discurso eleitoralista, através do qual se eterniza no poder uma clique de venais (que na actividade empresarial não teriam quaisquer hipóteses de êxito), prometendo e cumprindo medidas insustentáveis que enformam o alegado Estado social. Os gregos têm beneficiado de medidas absolutamente insustentáveis e que são a imagem de marca do chamado socialismo democrático, através das papas e dos bolos com que se enganam os tolos. E, a não haver tolos suficientes, cria-se a forma eficaz de imbecilização das pessoas (em nome das quais o socialismo fala despudoradamente) por forma a que a irresponsabilidade socialista se mantenha no Poder.

Os resultados estão à vista, numa Grécia em escombros e com uma população revoltada que não aceita ser espoliada das prebendas que lhe foram prometidas e garantidas por um bando de irresponsáveis. E a tentação de remeter as causas da catástrofe para o capitalismo, os poderosos, os bancos e para o blá blá habitual já dificilmente cola.

Que isto, ao menos, nos sirva, a nós, de exemplo. Sobretudo depois de termos estado à mercê das vontades e desvarios de um primeiro-ministro como Sócrates, que um processo muito semelhante ao dos gregos manteve no poder por duas legislaturas.

E.T. Já agora, esta notícia alguma vez foi desmentida?

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Um banho de humildade



[4443]

O Porto perdeu ontem em Nicósia com uma equipa arrumada, esforçada, sóbria e competente.

Ainda que se deseje, na generalidade, que as nossas equipas ganhem nas competições internacionais, esta derrota do Porto poderá ter tido um efeito balsâmico na possibilidade de virmos a ter um dia, quem sabe, uma equipa do F.C. Porto carrilada numa atitude isenta da farronca habitual dos seus dirigentes e equipas técnicas, porque sistematicamente enfeitadas de uma arrogância e bravata irritantes e que relevam de um «parolismo» de que a equipa e o clube deveriam de há muito estar libertados, não fosse a perseverança do seu presidente no método e no proselitismo dos que o rodeiam. E, ainda, no verbo patético de algumas celebridades da nossa praça.

O Apoel jogou bem, mereceu ganhar e não precisou das tiradas tonitroantes de que o mundo está contra eles, como é uso do seu rival.
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