sexta-feira, março 09, 2012

A esquerda iracunda

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O termo «virgens ofendidas» está gasto, é corriqueiro, cliché, fora de uso, redundante, de mau gosto, o que for. Mas não me ocorre outro mais adequado ao corropio da nata da esquerda bem pensante sobre as considerações que Cavaco Silva fez no prefácio do seu livro «Roteiros». Cavaco disse que Sócrates foi desleal a propósito do último PEC. Sócrates ser desleal não é grave por aí além, nem sequer nada que dele não se esperasse, conhecida a peça, o problema é que o ex-primeiro ministro foi institucionalmente desleal e isso é particularmente grave. Porque envolve as instituições e, no caso, a mais alta instituição do Estado.

O bruaá que por aí vai, assim, não é mais do que uma manifestação de claque que não se detém em matéria factual e berra pelas cores da camisola, com a mesma desfaçatez com que insultaria a mãe de um qualquer árbitro de futebol. E quando digo matéria factual refiro-me à dificuldade que tenho em admitir que esta rapaziada socialista que brame aqui pela blogosfera, jornais e televisões não saiba, claramente, que Sócrates é desleal, desconfiável e pouco sério. Sempre foi, não percebo onde está a novidade.
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3 Comments:

At 4:17 da tarde, Blogger Antonio disse...

A questão que se colocoa é a extemporaniedade da afirmação e a sua relevância, nesta fase do campeonato. Porquê e para quê um presidente da república, que tem vindo a proferir uma infortúnia sequência de afirmações a bordejar no insane, vir agora tornar pública esta sua opinião, acerca de um recente ex-primeiro-ministro desgraçado e auto-exilado em França, sobre o qual pairam ultimamente as mais sombrias suspeitas nos jornais. Este é o tipo de afirmação putativamente incendiária (para alguns, não para mim, que reagi com a mais militante indiferença, bocejando) que se profere pós-mandato, num daqueles livros de memórias políticas que ninguém lê, salvo uns mais dedicados activistas da análise da ciência política portuguesa.

 
At 4:44 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

António

Meu caro António. Até posso aceitar, sem esforço, que a afirmação pode ser extemporânea. Ainda que não veja bem porque é que temos de condicionar o lançamento de um livro ao facto de ser ou não extemporâneo. Concordo ainda, pacificamente, que Cavaco Silva tem sido infeliz nas suas intervenções recentes. O que para mim nem é grande novidade, conhecida a sua fraca oralidade e timidez. Mas o que «encanita» não é o que Cavaco afirmou, mas sim a forma como tanta gente demosntrou um enervante proselitismo em relação a Sócrates. A intervenção de Zorrinho e de Silva Pereira são simplesmente repugnantes. Quanto aos bloggers que se insurgiram, até convivo com mais facilidade, afinal eles fazem o mesmo que eu, emitem opiniões. O que é uma respeitável prática que eu prezo muito.
Um abraço :)

 
At 5:49 da tarde, Blogger Antonio disse...

Bem, eu classificaria este como, na melhor das hipóteses, um não evento. José Sócrates perdeu uma eleição há...quase nove meses. A "revelação" do presidente teria algum interesse há 11 meses. Feita agora, poderá ter eventualmente um interesse forênsico, para quem se interessa por estas coisas, pois pouco mais é que bater no morto. No meu caso, o episódio apenas acentua ou o mau aconselhamento que Cavaco anda a receber na sua estratégia comunicacional, ou um estado de espírito, esse sim, curioso.

 

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