terça-feira, maio 15, 2012

O fado dos martrindindes





[4634]

Acabei de entrar num café em Benguela, com um colega. Entrámos num recinto limpinho e bem ataviado com garrafas de Bols, Licor Beirão e outros licores portugueses, bem assim como várias garrafas de uísque. Nas prateleiras, uma tabuleta dizendo: «Bebidas expostas só para consumo da casa». Na orla da sala espraiavam-se meia dúzia de mesas redondas servida por umas cadeiras maneirinhas de tampos obviamente desproporcionadas para as «bundas» em uso corrente pelas moças bonitas, «jinguçadas» e «natural born adiantadas». Ao meio, umas quantas mesinhas redondas, sem bancos, do tipo em que nos quedamos de pé, tomando um café, de resto o que fizemos, sendo que me obriguei a tomar um café Delta que os portugueses insistem em considerar um bom café. Um familiar balcão de vidro expunha… veja-se… pastéis de feijão, pastéis de nata, bolas de Berlim, palmiers e outros notáveis da fidalguia pasteleira portuguesa, em tudo semelhantes aos que vemos em Lisboa, descontados o ENORME tamanho das bolas de Berlim e alguma palidez dos pastéis de nata. Em cima, alguns letreiros avisando que se servia «pizzas», café e bolos, sandes (escrito assim mesmo), refrigerantes e cerveja. Nas prateleiras abaixo dos olhos, alinhavavam-se garbosas garrafinhas de Compal, Sumol, água do Caramulo, cerveja Sagres, néctar, garrafinhas de água do luso e Caramulo.

Olhei através da vidraça e um olhar atento confirmou-me que estava numa rua duma cidade africana, a avaliar pelo caos do trânsito, motos, motinhas e motoretas, carrocinhas vendendo banana, mamão, banana-macaco, batata-doce e ginguba, tudo no meio de reluzentes jipões de alto luxo e numa moldura de pujantes acácias que lá para Novembro se vão vestir do fogo das suas enormes flores.

Regressei ao cenário «tuga» do café. E pensei que podemos ter sido muito maus em muitas coisas. Mas que de uma deficiente transmissão de hábitos a povos culturalmente tão diversos de nós como os africanos nunca sejamos acusados. Africanos simpáticos e sorridentes, jingões, falando português e comendo pasteís de nata e de feijão, bebendo café delta… só nós mesmos, tugas ajuramentados que devemos ter um não-sei-quê que, apesar de tudo, nos torna apelativos.
.

Etiquetas: ,

2 Comments:

At 12:14 da manhã, Blogger estouparaaquivirada disse...

Resumindo: sentes-te em casa!
Que sorte a passear e ainda por cima bem longe dos comentários do teu "amigo" Soares :)))
Boas férias.

 
At 9:07 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

papoila

Trabalhar, minha amiga, trabalhar... :)))

 

Enviar um comentário

<< Home