terça-feira, julho 24, 2012

À vontade do freguês


Se é um questão de fonética... alinho

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Não há como escapar. Estamos ao computador, mas a televisão vai emitindo o ruído habitual do «Bom dia Portugal». E com ele chega, fatalmente, o «bom português» onde diariamente se martela a opinião pública sobre o acordo ortográfico. A coisa vai-se tornando monocórdica, vagueia entre os dias de semana e meses com minúscula, aos hífen, passando pelos «C» e «P» que agora não se lêem.

Mas há excepções. Há artefactos, por exemplo, ou artefatos. Ambas as expressões estão correctas (corretas?), consoante se leia ou não o «C». Explicando como se fôssemos muitos burros, se pronunciarmos o «C» escreve-se artefacto. Se não pronunciarmos o «C»… bom, aqui já se escreve artefato. Ou seja, a coisa fica um bocadinho à vontade do freguês, segundo nos ensina a RTP. Já a etimologia do artefacto, do latim Arte Factu é um artefa(c)to despiciendo, interessa é que alguém se lembrou que o melhor era tirar as letras que não se pronunciam, mesmo quando elas se devem ler, como em artefacto, espectador ou sector, que desaguaram em vocábulos estranhos como artefato (que cheira a alfaiate), a espetador (que cheira a espeto de assar leitões) ou setor, que cheira a abreviatura do «setor» da turma dos meus filhos ou netos.

Mas no caso do artefacto/artefato, podemos dizer das duas maneiras. Com «C» ou sem «C». Diz a RTP. E se a RTP diz, a gente acredita. Quer-se dizer, descontando a gente que desconfia, mas essa é uma minoria descartável. E se a fonética é à la carte, a morfologia acompanha. A sintaxe não se ressente, as pessoas vão-se (des)entendendo umas às outras e as luminárias que acordam todos os dias a pensar no que há-de fazer para tornar o mundo melhor ficam felizes pelo simples facto/fato de terem nascido. Mas o culhosão de fazer?
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