domingo, setembro 23, 2012

Preocupado

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Não comungo da excitação que vai por aí com as manifestações em curso. Se a manifestação geral me pareceu genuína e transversal, ainda que injusta porque dirigida a um grupo de trabalho que poderá ser inexperiente ou inábil mas, pelo menos, não arrasta um rosário de suspeitas como acontecia com Sócrates e, genuinamente, tenta resolver o berbicacho que lhe caiu no regaço.

Foi pena que estes «indignados» de agora andassem distraídos na época das vacas gordas, engordadas com o dinheiro que agora temos de repor. Mais, numa época em que não só as vacas andavam gordas como muitos dos «cow-boys» engordavam também. Escandalosamente. As pessoas andavam distraídas, ou reparavam, mas ia-lhes sabendo bem. Hoje chegou a factura. E há que pagá-la. E as pessoas querem mais vacas. Gordas, se possível. Alguém deveria saber como explicar isto aos cidadãos, sem que lhes caiam em cima a acusá-los que estão a desculpar-se com o socialismo e com o passado. E explicar-lhes que não é desculpar «porra nenhuma» mas sim abordar os problemas pela sua configuração factual e que o problema não esteve nos portugueses gastarem acima das suas possibilidades. O problema foi os portugueses não se importarem que outros, ainda que portugueses também, mas que deviam respeito a todos os cidadãos, engordassem e hoje, sorridentes e cevados, se passeiem por diferentes areópagos.

Aceito, porém, que essa grande manifestação seja genuína e espontânea. Já a arruaça que por aí vai (a última foi aquela vergonha que se viu em Belém) de cada vez que um ministro vai à rua, me parece obscena e um insulto à grande maioria dos cidadãos que não vota na extrema-esquerda. Mais grave ainda é a frisa de engravatados (ou sem gravata, agora está na moda os comentadores aparecerem de fatinho, mas de colarinho aberto mostrando os pelos do peito, os que já os têm, nem com todos isso acontece…) que vêm depois para a televisão perorar sobre essas manifestações como se elas fossem tão genuínas como a outra. E não serem capazes de, nem ao de leve, referirem a batuta das mesmas. Na maioria dos casos, basta reparar na retórica dos insultos. E nas rimas.
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