sábado, junho 01, 2013

Que nem um limão azedo


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De vez em quando faz bem sair porta fora sem mesmo fechar a porta, a luz ou o portão da garagem. Faz bem sentir o ar de outras latitudes, mesmo que não isentas de problemas, mesmo que inquinadas de maleitas indesejáveis.

Desde Quarta-Feira passada que saí de Lisboa e não li uma linha de jornais portugueses ou vi um minuto de telejornais. E a vida rolou, tenho trabalhado o que tenho a trabalhar, encontrado quem devia encontrar e até socializado com quem devia socializar. Mas hoje, e depois de uma majestosa posta de garoupa fresca com batatinhas cozidas e umas couves cozidas ao ponto (ah! E sem virem a boiar na água da cozedura) num simpático restaurante da ilha de Luanda, vim descansar um pouco no quarto. E em má hora o fiz porque abri o televisor… estava sintonizado na RTP Internacional… e as notícias vinham em catadupa: afirmações idiotas e irresponsáveis de Mário Soares, a quem continuam a conceder um incompreensível tempo de antena, uma autêntica campanha de propaganda política do provedor de justiça, que se permitiu «judiciosas» considerações sobre a necessidade de derrubar este governo procedendo a novas eleições, mais umas notícias sobre o desemprego que atingiu novos recordes, com o esmiuçamento masoquista do número e natureza de desempregados, homens, mulheres, jovens licenciados, só faltou dizer quantos atacados com sinusite ou pé de atleta estavam desempregados. É aqui que mudo, em desespero, para a SIC, apenas para perceber que não sei quem se suicidou, certamente devido à crise, mais não sei quem bateu na mulher e mandou-a para o hospital, um homem aflitivamente atingido pelo desemprego e uma cadeia de notícias, que já nem recordo em pormenor, mas que batiam na tecla, mesmo que desgastada, da necessidade imperiosa do governo cair. Ainda me caiu no prato Cândida Almeida fazendo umas afirmações mais ou menos anódinas sobre a necessidade de a situação mudar. Passo aos blogues e vejo os suspeitos do costume a bater no ceguinho, como soe dizer-se, e o inesperado Pacheco Pereira, que agora deu em acordar todas as manhãs a explicar ao pagode que já Sá Carneiro dizia que o PSD não era a direita e a mandar uma missiva de respeitáveis cumprimentos a Mário Soares a propósito e uma reunião qualquer onde se quer descobrir uma esquerda qualquer, numa altura qualquer, mas que rapidamente deite abaixo este governo.

«Isto» é aflitivo, não me ocorre alguma vez em que os portugueses tenham demonstrado um tão vincado grau de morbidez ou de irresponsabilidade. Nem na guerra colonial, quando morria gente e Salazar nos mandava para Angola rapidamente e em força, me apercebi de tamanha inverosimilhança de lógica, aridez de ideias e perniciosa acção, muitas vezes objectiva e deliberada, sobre o futuro de Portugal e dos portugueses.

Por várias vezes me senti embaraçado quando confrontado com gente que vive fora do país, fazendo pela vida, arcando com as vicissitudes de quem se encontra deslocado e que me questionavam sobre a actual atitude dos portugueses. Mas, pior do que isso, tem sido este sentimento de raiva e frustração por me ver e sentir manejado pela mais vergonhosa colecção de crápulas que vão manipulando o destino do meu país e, consequentemente, dos meus e do dos meus filhos.

Quarta-Feira estarei de regresso. Espero que as séries da Fox estejam em pleno, que os filmes dos TVCine tenham melhorado um pouco e que o GP do Canadá não tenha sido cancelado ou adiado. Porque não consigo já ver televisão ou ler jornais. É mórbido, denota mentalidades obsessivas, incompetências e desonestidade intelectual. Não quero ver nem ler, não posso, não dá… isto vai acabar mal e, grave, muita gente sabe disso. E provavelmente é mesmo o que quer. FIM.

Estou cansado de me sentir o limão azedo em que me estou a tornar. E é preciso vir «cá fora» para nos apercebermos disso.
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