sexta-feira, maio 30, 2014

Ao velhinho já não se torce o pepino…


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… a menos que sejamos europeus, imbuídos deste convencimento endémico de que o mundo não só não pode passar sem nós como, sem recalcitrar, deverá agir, pensar e sentir como nós. Nós que, por qualquer capricho do divino ou, pensando melhor, por um arremedo perfeccionista do darwinismo que nos tornou eleitos, temos a responsabilidade de zelar pelo bem-estar da humanidade.

No caso vertente trata-se de alergias. E se aos pepinos conseguimos torcê-los, de pequeninos, por forma a que eles fossem para o mercado prontinhos a ser consumidos desde que tivessem todos o mesmo tamanho e se apresentassem irrepreensivelmente erectos, como se impõe num continente onde o crescimento demográfico deixa muito a desejar, já os perfumes tinham de ser igualmente domesticados. Ao ponto de fórmulas quase centenárias, como o lendário Chanel 5, serem agora questionadas sobre o perigo de nos provocarem horrendas alergias por causa de um tal de citral, uma coisa que existe no limão e na tangerina que, tanto quanto julgo saber, se consomem às toneladas por esse mundo fora.

Sempre tive horror aos amanuenses encartados. Uns porque não sabem fazer mais nada e merecem algum desconto. Outros, porque não sabem fazer mais nada na mesma, mas acham que sabem fazer tudo. E têm a aviltante mania de acharem que não podemos passar sem eles. E que eles é que têm de nos proteger, educar, pastorear e, enfim, fazer como que sejamos todos como deve ser. É o socialismo no seu melhor.

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