sexta-feira, agosto 22, 2014

A jornalista modelo


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Fernanda Câncio começa assim a sua crónica de hoje no DN, a propósito da invasão de cerca de 600 pessoas de pele escura (palavras de Fernanda) que resolveram ir ao Centro Comercial Vasco da Gama fazer uma série de tropelias e protestar conta o racismo em Portugal. A partir daqui, Fernando exercita a habitual retórica da culpabilização das pessoas de pele mais clara (palavras dela) e, de caminho, malha nos polícias a quem chama, mesmo, de polícias-modelo.

No fundo, este episódio é um bocadinho como uns pudins que a minha mãe fazia quando eu era pequenino. Após a cozedura, ela virava a forma do pudim de pernas para o ar e eu quedava-me extasiado com a perícia da minha mãe. Aqui é mais ou menos a mesma coisa. Vira-se o pudim e em vez de um polícia temos uma jornalista-modelo que, pelo visto, não percebe ou não quer perceber nada sobre as graves incidências de política de migração (esta foi-me ensinada hoje por um sociólogo), com as quais é preciso lidar segundo duas premissas básicas. Uma, a de que quem cá está emigrado tem de, incondicionalmente, aceitar as regras de uma autoridade democrática que não pode permitir que lojistas e clientes sejam ameaçados por umas centenas de cidadãos de pele mais escura (palavras da Fernanda) que resolveram confraternizar (?) num centro comercial (parece que a próxima confraternização é o luto pelo fim do Verão). A outra é a de que a questão do racismo é uma teia complexa de sensibilidades que não dá para resolver por uma qualquer jornalista cheia de ideologias e ideias feitas que se compraz em chamar modelo aos nossos polícias e deixar a ideia de que somos um bando de racistas. A Fernanda, pelo que me parece, não percebe nada de África, de racismos nem de pessoas de pele mais escura. Aparentemente, também não é brilhante em pessoas de pele mais clara. Ela devia envolver-se (propositadamente ou sem querer) num episódio em que pessoas de pele mais clara fizessem um «meet» qualquer em Luanda, Bissau ou Maputo e escrever uma crónica sobre a forma como os polícias a deixariam ou não entrar. Quem sabe, até, se o facto de a Fernanda ser uma mulher bonita e atraente não poderia até condicionar ou complicar o assunto.

A crónica da Fernanda é um disparate completo. Revela ignorância e uma pretensa ideologia, numa situação em que mais do que a ideologia o que se precisa é a aplicação da autoridade, bem vista a necessidade absoluta de que seja uma autoridade democrática e civilizada. Mais ou menos como, por exemplo, me ocorre, quando a selecção angolana perdeu um jogo de futebol qualquer em Alvalade, saiu do campo, resolveu partir a estação do metro no Campo  Grande e a polícia, tanto quanto me ocorre ter lido, resolveu a situação com ourelo, paciência e competência. Mas nesse dia a Fernanda devia estar distraída.


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