sexta-feira, julho 15, 2016

Relativizemos




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Há que relativizar os acontecimentos de Nice. Afinal, porque não pegar num camião e desatar a matar famílias com aqueles hábitos estranhos, festivos e infiéis de irem comemorar um feriado nacional e ver o fogo de artifício? Ainda por cima estava uma noite de calor. Calor de Verão, cheio de tentações espúrias para as mulheres de carne fraca que vão para a rua a mostrar os joelhos e os cotovelos ou, ainda, sabe-se lá, acabando a beber uma cerveja numa decadente esplanada?

O camionista, coitado, parece que era francês, natural de Nice. Veio da Tunísia porque talvez não gostasse do clima de Tunes e achou que em França fazia mais fresco. Além disso, dormir com uma francesa seria algo que até o profeta lhe desculparia, mesmo não sendo a francesa virgem e o jovem camionista sabia que o faria em nome da decadência da cultura ocidental, porque Alá é grande. O problema é que chegou a França e não é que os franceses mandam os emigrantes todos para guetos? Usam cruzes, fazem desenhos e anedotas sobre o profeta e os emigrantes não interagem com os franceses de França?

Esta será pelo menos, a ideia com que se fica, depois de ouvir as continuadas intervenções nas nossas TV’s, sobretudo a de serviço público. Que nos vai desbobinando estes temas e as idiossincrasias dos franceses como quem discute um off-side do Ronaldo. Alguns deles, jovens, que deixam a dúvida de que alguma vez passaram ”inda além da Trafaria”… jovens nascidos e formatados num Portugal cheio de aleijões e de jargões políticos que eles padronizam para darmos lições ao mundo de como as coisas devem ser feitas, em se tratando de emigrantes. Parece que a formatação não terá servido de muito. E por isso temos uma soberania limitada, devemos dinheiro a meio mundo e temos um governo à la Maduro, que um dia destes nos obrigará a atravessar o  Minho ou o Guadiana para irmos comprar esparguete, pasta de dentes, aspirinas e outros artigos de luxo, tal como os venezuelanos o fazem na vizinha Colômbia. Mas temos sempre esta superioridade moral que nos permite explicar aos franceses como é que eles deviam fazer com os emigrantes para eles não se sentirem excluídos e não irem para o promenade des anglais (que raio de nomes que os infiéis arranjam...) matar criancinhas. É só ouvir na televisão.


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