quarta-feira, agosto 10, 2016

Oui. Ou a vã glória de mandar




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Este deveria ter sido o título do filme de Manuel de Oliveira (de resto, um filme que tentei compreender, sem resultado, e me fez duvidar da minha inteligência, face à torrente encomiástica que já na altura corria impetuosa pelo leito da fama) e não o “Non”.

Porque mandar, para os portugueses, é um artefacto mental só ao alcance de certos funcionários que vêem no mando a afirmação antagónica à sua pequenez. Essa terá sido, por exemplo, uma razão do êxito rotundo dos fiscais das licenças de isqueiro, nos idos de cinquenta e sessenta, para proteger a indústria dos amorfos. E era vê-los, disfarçados e sub-reptícios numa mesa de café, aguardando pelo gesto descuidado de um cidadão acendendo um cigarro com isqueiro para se levantarem, impantes, da cadeira e exigir a necessária licença de isqueiro. Os contínuos das universidades eram outro exemplo categórico da êxtase do "poder".

Esta cena das bolas de Berlim é muito semelhante. Não consigo estimar quantas bolas de Berlim se vende nas praias, mas consigo adivinhar que os réditos são exíguos e sem qualquer expressão nas receitas do erário público. Mas sei imaginar o gáudio de um “fiscalete” das finanças e a sensação orgástica de um yes-man durante as quarenta horas semanais (quase a serem trinta e cinco) a passar uma multa a um homem que numa manhã de árduas caminhadas na praia trabalha mais que o fiscal durante o mês todo. Ah! E com a virtude de, ao contrário destes tiranetes de esferovite, tornarem muita gente satisfeita.

NOTA: este post incluia uma foto de um repórter do JN que foi erradamente tomado como um fiscal de finanças multando um vendedor de bolas de Belim. A Alexandra Sobral chamou-me a atenção para o facto pelo que de imediato retirei a foto e peço desculpas.. E agradeço sinceramente à Alexandra.




Peço desculpa


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