terça-feira, setembro 12, 2017

A culpa é dos acontecimentos



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Uma parte considerável do território americano foi atingida por uma catástrofe (parece ter sido o maior furacão de sempre) que causou elevadas perdas materiais e perda de vidas humanas. O Presidente fez uma curta declaração onde assegurou aos cidadãos um plano federal de ajuda aos atingidos e enalteceu o facto de ser na desgraça e na contingência que os cidadãos americanos se sentem unidos e proud of it.

Em Portugal, uma catástrofe semelhante mereceria uma declaração do nosso sorridente primeiro-ministro (ladeado pela ministra Constança fungando e de olhos tristes) explicando os porquês da situação a que não seriam estranhos um elevado número de malfeitorias e desmazelos do governo anterior, as alterações climáticas que os americanos se recusam a subscrever em Paris, as injustiças sociais (apesar de tudo minoradas pelo aumento de rendimento das famílias a que ele, claramente, não era alheio), as dificuldades na resposta à catástrofe pela infernização a que o governo PSD/CDS submeteu as famílias, os pensionistas e os reformados, ao descalabro de uma oposição sem liderança, sem propostas, respostas ou planos e outras singularidades muito próximas daquilo que Maduro diria aos infelizes venezuelanos, numa situação semelhante. Tudo acompanhado de um sorriso e de uma catadupa de “orabamoslaber” ou, até, de uma vaca de brinquedo com asas e Costa aos pulos num palco improvisado, com o pessoal a bater palmas.

Após o que teríamos Catarina e Jerónimo a dizer mais ou menos as mesmas alarvidades - ela com a tacha razoavelmente arreganhada e ele com o mento reflectindo as heroicidades do passado e as certezas venturosas dos amanhãs. No fim, o habitual cotejo de comentários políticos, todos eles dizendo a mesma coisa e, assim, não cotejando coisa nenhuma e um remate obsceno dum “Eixo do Mal”, de uma “Quadratura” e de uma Constança Cunha e Sá à maneira.

O pano cairia com declarações alarves mais ou menos ao estilo de que "no limite" não teria havido furacão (sem acusação e sem confissão), na pronta resposta do governo, na abertura de seis inquéritos e nas culpas de um punhado de instituições. Para além das de Passos Coelho, naturalmente.


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